Por Glauber Lauria*
“Le grain de folie qui est le meilleur de l’art.”
“A ponta de loucura que é o melhor da arte.” Vicent Van Gogh
I
acordes acordam e cortam o corpo
acordes o atordoam
o corpo gira e revoluteia
ocupa o espaço em círculos
desencadeia fúria – músculos motores –
o corpo amplifica a carne
e esta assim exposta
se alça ao espaço
flor embrionária
que ao girar
quebra a estática
abre êxtase espaço
e circunlancinante
alucinada
esta flor envolve
todo o drama
preludia
a carne que se abre
assim exposta à febre
dançando elíptica
para estremecer a terra
II
de carne a estátua se move
cabriola estertores
deseja viva imolar-se gesto
de carne o corpo se move
fibra à fibra retesada
elástica desenvoltura
flutua a dança na atmosfera
III
salta, volta, pára
movimento e ritmo se entrelaçam
delineia com o corpo
desenhos abstratos
IV
malemolência espaço
revôlta
líquida-lânguida
mole
bela e tonitruante
V
excita-se a estátua
o movimento a envolve
quer-se entregue
como o ímpeto que a move
VI
dá-se sem amparo
como o gesto que a guia
impacto pela carne
e tudo que essa suscita
obs: o título do texto, de Thamiris Aldrafon, serviu de mote para o poema à pedido da autora, trata-se de projeto experimental para vídeo-dança por ela concebido, ainda não realizado.
*Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no Rio de Janeiro. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.