A poesia brasileira vai muito bem, obrigado! Tem muito poeta escrafunchando as letras por aí, correndo por fora, por dentro, pelos centros e periferias, nos arredores e corredores, nas academias da vida, nas ruas, nos postes, entre lambes e cachorros sonhadores, a ver estrelas na ponta dos dedos, a desenhar música com versos.

deus morreu

o rei foi decapitado

mesmo que tudo volte

a ser como antes,

nada voltará a ser

como antes, nada.

Mais um colaborador vem brindar conosco e expor seus sentimentos de mundo. Estou falando de Tiago D. Oliveira, de Salvador-BA, professor e pesquisador, estudou letras na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na Universidade Nova de Lisboa (UNL). Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados no Brasil e em Portugal. Publicou o livro de poesias, Distraído, em 2014 e um novo trabalho, Debaixo do vazio, em 2016.

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O blog do Tiago você acessa AQUI.

Quem é o Tiago, para onde quer ir, escreve por quê?

Tiago – Nasci em Salvador-BA, cresci numa casa com quintal, numa rua cheia de crianças, num bairro que era um híbrido de interior e cidade. Desde cedo me acostumei a sonhar, acho que essa foi a minha grande sorte na vida. Acho que todo mundo quer ir para algum lugar, eu nunca soube bem para onde eu queria ir, mas sabia que queria ir. O movimento do mundo sempre me encantou, mesmo carregando a província e os galhos caídos de um flamboyants em mim. O mundo que carrego dentro é o grande laboratório da minha literatura. O trampolim para os versos. A escrita só existe porque entendo melhor os dias quando sento com meu bloco de papel e caneta nas mãos. Silenciar. Respirar. São palavras tão difíceis nos dias atuais.

Estuda muito? Lê para escrever, escreve e lê, o mundo é um grande livro?

Tiago – O estudo se tornou o meu grande barato, a minha onda e também o meu “ganha pão”. Uso a leitura e a escrita para o trabalho e para os momentos, quase diários, de produção literária. Acredito que a leitura não é o único caminho para o conhecimento, mas penso que a sua prática possibilita uma série de transformações no indivíduo, que passa a ter acesso a um número infinito de informações. Leio de tudo um pouco, artigos, ensaios, os recadinhos no papel de pão, as expressões, mas a poesia ganha em mim um chão sempre bom para o plantio. Cabe a cada um dar um destino saudável para as suas leituras, um caminho natural para o movimento. O mundo é um poema de Drummond, não quero deixar de ler os seus versos nunca.

Qual a matéria da sua poesia, onde cavas?

Tiago – A poesia são os meus dias. Carrego os horários, as responsabilidades, as contas, o trânsito, o sono, o medo, a força, a capacidade de ainda me indignar, de ser feliz. A poesia é o instrumento que me possibilita viver e seguir diante de tudo isso. É uma forma de prazer. Pensar em um poema enquanto dirijo ou espero os alunos terminarem alguma atividade. A poesia, sem romantismos algum, é o café que tomo toda manhã antes de sair de casa, é o ponto de continuação. A procura nunca vai parar, descobrir um verso é uma experiência que a cada dia ganha maior reverberação dentro das minhas horas. A procura nunca vai parar, pois desde que estejamos vivos, a vida tão somente não basta. Cavo em alguma forma de bastar o que não pode ser pleno. Cavo para aceitar, ou não, e seguir – nos clássicos, no que vem sendo escrito na atualidade, livros, sites, blogs, revistas, conversas, pensamentos, sonhos, até sonhos.

Circulação é importante? Como faz circular sua obra? Usa a net? Usa o suporte livro? Como vê o futuro para o escritor/poeta?

Tiago – Acredito que a circulação é importante. Em um mundo virtual a necessidade de adaptação é uma realidade. A circulação dos meus poemas se dá com a ajuda da internet. Tenho alguns poemas em revistas, blogs, jornais, sites. Vejo estas ferramentas como braços e pernas do mundo editorial. Negar o mundo em que vivemos, com suas imediatas transformações, é tão imprudente quanto entendê-lo como única verdade. Acredito que o livro em seu formato conhecido nunca deixará de existir. Se os formatos atuais servirem para o reaparecimento dos leitores, acredito que todo escritor deve ficar feliz. O futuro é uma imagem de hibridismos numa moldura de madeira de alguma década passada. Pouco a pouco iremos nos acostumar com o fato de que o azul com o amarelo resulta sempre em verde, a cor da esperança. O futuro é agora, o que fazemos do agora. Não importam as tramas que darão o tom da notícia, sempre haverá a palavra.

Quem dorme em sua cabeceira?

Tiago – Tenho dois tipos de estantes de livros, uma maior e outra menor. A menor recebe os livros que leio na semana, no mês. A maior funciona como biblioteca passiva, guarda as leituras realizadas. Ando lendo muita gente que vem fazendo boa poesia. A cabeceira é um lugar de mitificação e empoeiramento. Prefiro colocá-los no lugar da TV.

Você tem fome de quê?

Tiago – Tenho fome de gente, do que move as pessoas, das pequenas motivações, dos pequenos abismos cotidianos, das palavras e do som delas.

Pensa em rede colaborativa para agregar parceiros?

Tiago – Acredito que a poesia é uma forma de atitude que não consegue ser bem difundida na sociedade. Os poetas são seres estranhos e isso quase sempre não é colocado como um elogio. A união é sempre benéfica quando há verdade e clareza. A parceria que promove a estampa alegórica não me convence. A união que eleva a poesia e o fazer poético, sim. A saída para qualquer dificuldade é acreditar. Talvez o importante agora seja a fé dos poetas em seus poemas e no lugar aonde querem chegar. Eu quero uma xícara de café quente agora. Este livro, a manhã e nada mais.

Vamos com o cidadão cultura também?

Tiago – O cidadão Cultura é uma ferramenta de transformação. A importância deste trabalho é do tamanho de sua seriedade e qualidade. Estou feliz com esta parceria, por ter meu trabalho por aqui, neste canto de beleza e diversidade. Acredito que a nossa cultura precisa de atitudes como esta – a de dar voz aos poetas. Sigamos juntos e fortes!

 

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