Por Sika*

“Ser mulher não é uma tarefa fácil”. Parece ser uma frase um tanto clichê em época de ativismo feminista em ascensão. Mas é a mais pura verdade. Por mais que existam pessoas que achem o contrário, é difícil explicar o quão degradante é enfrentar certas situações cotidianas. Como por exemplo: ter direitos fisiológicos. Melhor dizendo, tendo o direito de “mijar” em paz.

Em uma semana dessas, coincidentemente, me deparei com estas duas plaquinhas em lugares diferentes. Um em um setor público e outro no privado. Comecei a me questionar sobre a dificuldade de alguns homens em entender apenas a placa principal, no qual aponta um serzinho de saias, o que representaria uma “mulher”.

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Achei engraçado no início, até me deparar com um homem em um destes banheiros. Mesmo com o destaque notável de que o lugar não era destinado para ele.

Chocada, averiguei o porquê daquilo. Descobri que ambos os banheiros masculinos, localizados ao lado do feminino, estavam com problemas de instalação. E, diante a isto, homens migraram para o mictório mais próximo, ignorando se aquele seria destinado para eles ou não. Mesmo sabendo que havia outros banheiros nos andares de cima ou de baixo. Todos em bom funcionamento.

Ora, leitores. É exigir demais um espaço exclusivo para urinar, sem a preocupação de me deparar com um macho no banheiro? E o pior. No caso, não se tratava de um homossexual, travesti, mulher-trans, ou outra identidade de gênero que se sente a vontade em um banheiro feminino. Eram homens mais velhos, barbados, estudados, nascidos com pênis, vestidos com calças e camisas sociais. Simplesmente: HOMENS.

Não basta termos que enfrentar a realidade de sermos rebaixadas, testadas, violentadas, entre outras atrocidades, ainda temos que exigir privacidade no banheiro? Porque, sinceramente, urinar não é uma coisa tão simples para uma mulher. Ainda mais em se tratando de um banheiro público. Temos que passar por um verdadeiro “ritual”, sem brincadeira.

 E para quem já achou exagerado o termo “ritual”, vou tentar explicar (principalmente para quem nunca se deu o trabalho de urinar sentado): Imagine-se tentando equilibrar em cima de uma privada, com as mãos nas paredes e ao mesmo tempo nas calças, estas na altura dos joelhos, tentando também não se molhar dentro de uma posição complicada (o que chamo de “semi-sentada”) e, ainda, pegar o papel higiênico ao lado, mas sem se esquecer de segurar a calça e com o cuidado de não encostar no vaso, enfim… sentiu a dificuldade? Imagina para quem quer fazer o “número 2”. Nem preciso explicar, não é?

Eu nunca tive um pênis, mas acredito que urinar para os homens é uma tarefa bem mais simples do que para as mulheres. Afinal de contas, fazer isso em pé, sem precisar encostar em nada, é algo no mínimo invejável, convenhamos.

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E não bastasse esta vantagem natural, ainda há disponibilidade de recursos para os homens. Sim, pessoas. Existem mais benefícios para eles até dentro desta esfera. E sabe qual é? Além dos vasos sanitários (que na maioria das vezes é a mesma quantidade que do toalete feminino), eles ainda dispõem de mictórios para executarem melhor o serviço. Moleza, não?!

Então, amigos. Deu para entender o quanto é difícil ser mulher neste mundo? Acreditem. Ter que pedir para um homem não entrar no banheiro feminino, mesmo com todas as placas de sinalização, está dentro do campo absurdo de se exigir o direito a dignidade.

Deste modo, sugiro um projeto de lei que garanta o direito a privacidade para as mulheres e, até, a disponibilidade de mais meios para o exercício fisiológico. Seja com uma porcentagem mínima a mais de vasos sanitários nos banheiros femininos, ou qualquer coisa ligada a isso. O que não pode, é deixar que este fato continue dentro de um histórico constrangedor para todas nós.

Não digo privar os homens de algo, mas dar mais condições às mulheres. Pois, depois de todos estes argumentos, acredito que ninguém vá se opor das reais necessidades dentro deste sentido. Por favor, né?!

Exigir isso é algo que não está tão acima da capacidade intelectual de ninguém. É simples. E, sim, mulher é sim um “bicho complicado” mesmo. Que menstrua, que tem TPM, que sente dores mensais, enfim, que vive! E, além de pedir este direito, peço também para que todos os homens tenham RESPEITO pela privacidade da mulher, e dirijam-se ao banheiro MASCULINO mais próximo. Deixem o feminino em paz.

*Sika é jornalista, artista plástica e faz bafão quando encontra um homem 
no banheiro feminino.
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Comentário

  1. Imagina a dificuldade que passo em achar um lugar onde eu possa usar um banheiro sem ser discriminada! Tenho medo, muitas vezes passo horas sem urinar até achar um lugar que me sinta segura para entrar sem medo! Me desmonto chorando copiosamente depois que passo por uma situação de discriminação. Se as mulheres acham ruim, pior é para nós mulheres trans!

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