Nas duas últimas semanas que antecedem o dia de hoje, tivemos três eventos envolvendo mortes de pessoas com imensa notoriedade outras nem tanto: o falecimento do poeta brasileiro concretista Ferreira Goulart, a morte do cubano guerrilheiro revolucionário Fidel Castro e também um trágico acidente aéreo envolvendo os jogadores da chapecoense. No nível de importância que atinge o conceito humano, creio que todos eles perante ao olhar da maioria da nação, tem seu valor e o mesmo peso. Não me refiro a simples análise de pertencer a um partido ou outro, de jogar para um time ou da divisão que participa; o sentido da abordagem vem do nível de importância que tem cada um que se foi entre cada um de nós e a visão que a própria mídia estabelece.
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi falar de Roma, o grande império romano, que matou Cristo, inventou os aquedutos, o aquecimento de casas até a loucura de um certo imperador que deitou-se com sua própria mãe e que depois manda matá-la, envenena seu meio irmão, incendeia Roma e observa a cidade ardendo em chamas ao som da lira que tocava, lembrando que o imperador Nero era aluno do notável filósofo Sêneca. Sim, existiu um imperador que cometeu isso e outras coisas que não convêm falar, em 14 anos de governo, se matando depois aos 30 anos. O ponto de discussão não é necessariamente as atrocidades e excentricidades cometidas por um ou outro imperador romano e sim a política do pão e circo. Muitos historiadores desconfiam da ideia de que a política do pão e circo seja para distrair a população com intuito de distorcer a visão no que diz respeito a política da época. Mesmo com tais considerações, abordaremos a visão de que a política do pão e circo seja para fins de manipulação de massa. Existe um ditado taoista que diz: “quanto mais instruído o povo, tanto mais difícil de o governar”. Partindo dessa lógica, sem mais redundância, analisando o atual momento sócio político que estamos atravessando, existe uma possível política de pão e circo em nosso país?
O Galvão Bueno narrando em horário nobre na maior emissora do Brasil, o velório dos jogadores da Chapecoense. A cobertura que atravessa as noites e os dias nas emissoras abertas e algumas da TV paga, a comoção diante do trágico acontecimento que tivemos recentemente, entrevista com todos os membros possíveis dos jogadores mortos, não respeitando o luto das famílias. O avião caiu no dia 29, no mesmo dia 29 de novembro ocorria, no Senado, a votação da PEC 55; qual foi o ocorrido com maior cobertura da mídia e qual obteve maior importância e notoriedade?
Muito interessante, não me recordo de ver o mesmo acontecimento midiático no velório de Ferreira Goulart, uma notinha rápida entre o noticiário de economia e as notícias do tempo. A importância que a mídia e a população dá para cada evento diz muito a respeito desses cidadãos. Foi possível ver nas coberturas dos jornais a população de Cuba esperar dias debaixo de sol escaldante para ver seu líder morto, dar seu último adeus ou ver que se livrou de alguém que tinha tamanho ódio e pavor. Seria, no caso de Cuba, a ida para o velório de Fidel, por amor ou ódio, uma proposta midiática de manipulação que condenaria sua nação ao extermínio diante da ignorância e do controle mental emitido por um forte posicionamento do governo, ou um patriotismo congênito, visto que seus antepassados também admiravam a figura do líder cubano que fez a revolução em 1959? Os dois eventos têm, sobretudo, um forte apelo de comoção de massa. O evento dos jogadores da Chapecoense tendo fim para uma exploração midiática programada com direito a velório narrado com choro ao vivo e velas; ou por apelo da nação diante de um herói nacional cubano morto ou uma simplória notinha de rodapé que reclama: hoje meus amigos, a poesia brasileira morreu.
mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
*Flamarion Scalia - Jornalista (colunista), 28 anos,
morador de Goiânia. Permaneço,desde criança, imerso na filosofia
e atualmente na deliberação da reestruturação das diretrizes
fundamentais da epistemologia tradicionalista que para mim,
é demasiadamente reducionista. Estudante de Artes Visuais (UFG), design gráfico e um aprendiz nas artes plásticas. Entusiasta da proposta surrealista e da crítica Dadá.