*Por alam borges
a rua se desenrola na tarde cálida e some entre os prédios; e, no sentido oposto, se cansa na ladeira, que sobe até atingir o cume dos telhados, entre mangueirais, e descamba ladeira abaixo a sumir de vista expondo sua corcova negra de breu.
o menino sentado na calçada espia a densa floresta amorfa de nuvens onde sub-voam urubus e a floresta densa transita na borda para um cerrado que se estende pelo azul da tarde e dele salta uma jaguatirica num salto lento e suave como um sonho, que, parece, não vai se acabar nunca mais e mal toca as patas ja se perde na moita de onde sai um tamanduá que se ergue e abre os braços para o menino e os fecha sobre si mesmo numa agonia lenta e drástica até transtornar-se :um tatu escava e some nuvem adentro :araras vermelhas pousam lentas para o flash do sol :um bicho-preguiça se desfaz antes de dar sequer um passo :dorsos de prata de peixes em algum rio imóvel :um macaco salta num galho que se solta e flui borboleta levada pelo vento :uma cutia se encontra com uma paca e se misturam no cerrado :por cima se divisa a cabeça vermelha de um pica-pau :uma onça se desgarra sorrateira e salta sobre a jugular de uma capivara e se perdem entre sangue no cerrado aéreo :uma anta boia num lago de luz :“um curiango piou perto” e, na distância, debaixo de um pequizeiro florido, se divisa entre os galhos os chifres de um mateiro que arisco se arranca num salto longo e seus cascos suaves mal tocam e o caçador surge atras fazendo mira e dispara, mas o veado se embrenhara no cerrado e a bala perdida veio encontrar o peito do menino que caiu para tras com olhos atônitos e antes de ficar cego para todos os sentidos via ainda na floresta amorfa de nuvens o caçador se esvaecer
*Alan Cardec Borges nasceu em Torixoréu/MT e mora em Cuiabá desde 1993. Autor de: Alegorias encantadas :crianças, (contos infantojuvenis) fogo (poema) e o infiltrado (poema). assina seus livros como alam borges. Este conto faz parte do livro: shopping.