Por Bruno Cidade*
Fotografar emoção é umas das mais desafiadoras tarefas para quem está com a câmera na mão. Já não basta o fato da emoção ser subjetiva e pessoal a cada um, o registro precisa ser quase que instantâneo, pois esse pequeno instante que toca o outro é rápido, sutil e muitas vezes imperceptível.
Acompanhar o projeto Ribeirinho Cidadão em sua décima edição me proporcionou essa oportunidade. Diante de tantos atendimentos de saúde, cidadania e justiça, muitas vezes quem se emocionava éramos nós e não aqueles que eram beneficiados.
Não foram poucas as vezes que baixei a câmera e me emocionei com o que via, ou à noite, depois de clicar por um dia inteiro, vendo as imagens e relembrando as pessoas que conheci.
Nos atendimentos de saúde, era clara a necessidade das pessoas que procuravam os médicos, dentistas e oftalmologistas. Os profissionais faziam de tudo para bem atender e estabelecer uma conexão com cada um dos pacientes. Presenciei pacientes sendo olhados nos olhos, tendo suas mãos tocadas e escutando palavras de conforto e paz para a sua enfermidade e inquietude. Pouco para quem faz, mas muito para quem recebe. Como alguns ribeirinhos, que pela sua vida sofrida e falta de acesso ao básico, andam de cabeça baixa e falam sobre sua vida em tom de voz tímido e retraído.
Aos oftalmologistas, coube a missão de devolver a nitidez, cor e brilho de um lugar de muitas belezas naturais, mas que para muitos ribeirinhos, sem a ajuda de um óculos, não é possível contemplar. Numa certa noite, olhando as estrelas, me peguei pensando em como seria o café da manhã dessas pessoas, podendo ver sua família, seu alimento e tendo o seu dia a dia transformado pelas lentes que ganhara no dia anterior.
Em nossa equipe contávamos ainda com um palhaço, servidor do Juizado Volante Ambiental (Juvam), para entreter e fazer a alegria da criançada, bem como passar noções de educação ambiental de forma lúdica. Ele me confidenciou em uma conversa que muitas daquelas crianças nunca haviam participado de brincadeiras como aquelas e que ele era costumeiramente confundido com palhaços famosos da TV como o Patati e Patatá.
Para chegar na maioria das localidades atendidas pela expedição tivemos que enfrentar dificuldades, muitas delas só vencidas pela força física e perseverança de conseguir terminar aquele dia para começar outro em outra comunidade. Foram 20 dias de entrega, lágrimas, suor, sorrisos e muito calor para o corpo e para a alma. Uma experiência única para quem começou o projeto procurando emoções para registrar e acabou diariamente emocionado.
*Bruno Cidade, 36 anos, publicitário de formação tem na fotografia sua grande paixão e atualmente trabalha na Defensoria Publica de Mato Grosso.