Por Glauber Lauria*
minha tristeza
é não ter sido fotógrafo de praça
nunca ter ganho de bailarina uma caixa
nunca ter dançado uma valsa
não te(r)cido no altar beijado
minha tristeza é a ausência do jornal diário
a falta de uma colcha de retalhos
é não ter um baú de guardados
faltam-me alfinetes, uma echarpe, alfaiates, uma avó de chalé
peso para papel de carta para cartas que também faltam
como faz falta uma réstia de alho, um tacho de cobre, uma tia que não fala
será que falta também uma baixela de prata
na família uma antiga história trágica
talvez um colar de pérolas, um anel de ágata?
uma amante, uma esposa, uma namorada
um postal da Irlanda uma visita a Itália?
ter sido outrora um duque em Mântua uma condessa em Pádua
talvez apenas falte um quadro de Goya
ou um mero porta retratos
sinto falta de uma placa, que aponte a correta estrada
sinto falta de uma letra e uma data
sinto falta de uma nota, uma carreira e uma sonata
sinto a falta de um copo, um corpo e um piano de calda
sinto também a falta de taças, garrafas e almas
talvez a cousa que mais me faça falta
seja uma tiara de princesa
um vestido de fada
uma varinha mágica
talvez o que mais falta me faça
é não ser uma menina
não usar calcinha
não caminhar de sandália
*Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.