Por Lucas Rodrigues*
Existe uma linha muito tênue que separa o abismo da loucura para o abismo da sanidade. Alguns atravessam essa linha de forma breve e chegam a escorregar em raros momentos. Outros não chegam a atravessá-la, pois é lá que residem. É a própria linha de suas vidas.
Usam a linha como impulso para saltos de Bungee Jump ora lá, ora cá, mas sempre com a falsa certeza de que subirão novamente. Não vivem na linha por obrigação, mas por opção.
Nada substitui as sensações, inspirações, dores, torturas e euforias que aquela linha proporciona, além dos sentimentos – angelicais e demoníacos – que nenhuma palavra já descoberta conseguiria descrever.
Sabem que podem escolher um dos caminhos e tem a noção exata de como fazê-lo. Mas são bairristas. Passaram a vida ali e não querem abandonar o local onde cresceram e se tornaram quem são. Aquela linha faz parte de sua própria essência. Sair de lá equivaleria a um autoabandono, deixando-os órfãos de si mesmos.
O tempo passa e a linha, além de tênue, começa a ficar gasta. Não consegue mais se sustentar e deixa previsível que vai estourar, o que faria quem está nela cair em um dos abismos. Os moradores olham para baixo e enxergam que já não existem dois abismos. Apenas um.
*Lucas Rodrigues é jornalista, ator enferrujado, ama espetacularizar o cotidiano