Bastou o maestro da Orquestra Sinfônica da UFMT, Fabricio Carvalho, anunciar o concerto A Nova Música Nova de Mato Grosso, onde apresenta cinco nomes de uma novíssima safra de novos músicos como novidades, ou representantes de uma nova onda musical em Mato Grosso, e a polêmica se abriu com contestações, desconfianças e diversos outros sentimentos com potencial explosivo, que vão da ordem pessoal até aqueles que levantaram questionamentos conceituais, levando em conta a história da música e seus momentos de ruptura ou de avanços estéticos como os movimentos de vanguarda do século passado.
Posso citar aqui vários movimentos e autores das ditas Nova Música, inclusive o citado como referência para o referido concerto que terá como palco o teatro da UFMT, do maestro Kollreuter, que veio da Alemanha para o Brasil perseguido por nazistas, trazendo na bagagem elementos composicionais novíssimos para a época, como o dodecafonismo. Existe todo um repertório de revoluções musicais em que as vanguardas se muniam de manifestos com os conceitos básicos dos movimentos em que decretavam, ipsis líteris, a ruptura com a escola anterior como elemento necessário para a história avançar.
Movimentos como da música eletro acústica, que teve o também alemão, Stockhousen, como pioneiro. Rogério Duprat, que foi aluno de Stockhousen, veio para o Brasil e compartilhou novos conhecimentos em interação com músicos como Tom Zé, Caetano, Gil e a galera do Tropicalismo. Uma intersecção muito interessante entre o erudito e o popular. Posso citar os movimentos como o do maestro Roberto Victorio, que está aqui bem perto, ministrando aulas no curso de Música na UFMT e compondo sem parar. Além da implantação de núcleos de pesquisa musical contemporânea no âmbito da própria UFMT. Podemos citar muitos outros movimentos, como o minimalismo, a música atonal, microtons, enfim, são muitas micro revoluções no contexto da música, seja de concerto, seja popular.
Em recente conversa com o maestro Fabrício e os músicos envolvidos, percebi que a intenção não é provocar uma revolução estética, mas antes, de mostrar aquilo que, em seu olhar, representa um certo novo na cena musical de um estado que prima pela diversidade. Produz-se muita música hoje em MT passando por praticamente todos os gêneros, da música popular inventiva e transgressora, como o próprio Caio Mattoso, que está nesse time selecionado pelo maestro Fabrício, a Orquestra de Percussão [re]Percute com Zeca Lacerda, ligada ao departamento de artes da UFMT, Roberto Victório e Terezinha Prada, o rock, rap, jazz, blues, chorinho, samba, música ribeirinha, viola de cocho, viola caipira, enfim, é vasta a onda musical que assola por todo o estado.
Fabrício até brinca, se tivesse que colocar tantos quantos fazem música boa por aí teria que ser um concerto com três dias e três noites. Ele considera que, cada um ao seu modo, representa um recorte: as cantoras Lorena Ly e Ana Rafaela, já são vozes que se consagraram tanto em âmbito local quanto nacional, vide programa The Voice, Rede Globo; Henrique Maluf, o cara das raízes de Cáceres, que já rodou pela Europa com o grupo Chalana por três vezes, toca rock’n Roll, toca Tim Maia mais que o próprio Tim, segundo Carvalho; Linha Dura trás o Rap para a arena da suprema elite musical, e aí, observo que, os velhos e novos salões continuam incorporando a periferia, a história se repete; e, por fim, o Caio Mattoso, que no meu entender, talvez seja o que há de mais novo em termos de uma música inventiva, ousada, criativa, no limite da racionalidade. Ele arrisca novas sonoridades, performáticas e poéticas.
Enfim, meu caro, de novo o ovo tá no centro da ribalta, cultuado, consagrado como a grande metáfora do conhecimento ad continuum. Sei lá o que que é novo nesse caos confuso e difuso.
O jornalismo sempre deu voz a essas questões de interesse de todos e que fazem avançar a história. Acho ótimo alimentar as polêmicas que surgem. As tensões é que fazem os saltos. Quem não gostar que faça ao seu modo. É assim que vamos, uns dão milho aos porcos, outros levam pérolas no pescoço. Que viva la música! Que viva la arte, la rebeldia del ninos que crescem e querem mostrar a cara!
A gente não deve temer o contraditório, deve temer é a unanimidade. A visão totalitária, a tendência à tirania. De resto é alimentar o debate, a liberdade de expressão, a cultura, a arte, enfim, viver sem eira nem beira, de preferência com muito riso e pouco siso, como escreveu o poeta Oswald de Andrade.