Antes de qualquer coisa, de alguém se sentir excluído neste texto.. isso aqui é uma crônica, são as minhas memórias de um sábado à noite inusitado, krzy, diferenciado, diversificado em todos os sentidos e que meus sentidos não estiveram presentes em todas as performances ali realizadas. Deixo escorrer aqui o que eu senti, o que eu vi e até sobre o que me lembro das horas em que eu não estava enlouquecida na pixta libertando todo o stress cotidiano.
É preciso falar sobre essa festa. Não foi só uma festa, foi Performática. As próprias pessoas que habitavam a festa podiam ser chamadas de performáticas com toda a liberdade que o ambiente fazia sentir. Era uma performance atrás da outra, era você se sentindo uma performance dentro de uma performance. Um inception de performances.
Tá bem, do começo: chegando lá, na própria bilheteria já podíamos dar de cara com Fabio Motta e sua cabeça coberta, não consegui identificar direito, mas acredito que fosse com dois tipos de meia-calça (uma delas arrastão), com buracos nos olhos e uma gravata borboleta. A performance foi além disso, atribuindo à artista Raquel Mützenberg, que vestia e atuava, em sua expressão da técnica bondage.
Entrei! Além do evento ser uma proposta totalmente diferente (diversa, impactante, underground, liberta, P-E-R-F-O-R-M-Á-T-I-C-A) era a primeira vez que eu tava conhecendo o novo espaço da Casa Velha (que antes ficava na famigerada Mandioca, agora fica num lugar – diga-se de passagem bem da hora – lá no Porto), então pra mim foi tudo muito nada usual!
Millena Machado tava lá vestida de sua performance “Da lama nasce a flor de lótus” no seu escafandro e seus passos que mais remetem aos movimentos de um astronauta sem gravidade, ou seria mesmo um mergulhador no fundo do mar?
Um pouco de dispersão entre uma cerveja e outra música e me deparo com a Juliana Graziela performando pela festa com “La luz”, acompanhada da iluminista Karina Figueiredo. A Ju tava vestida com uma roupa toda prateada, um tênis desses de led que muda de cor e uma make que misturava neon e prata, brincando de luz e sombra.
Elas nos guiaram até o primeiro ambiente da festa (ah, é! tinham dois ambientes na festa) onde Adir Sodré pintava um painel transparente, provavelmente de acrílico, com tintas néon e os iluministas com suas lanternas.
De todas as performances que eu acompanhei, a que mais me comoveu, me tocou e me deixou instigada foi a “Espectroide”, composta pelos atores Douglas Peron, Alexsander Reis e Caio Ribeiro. Os três estavam seminus, só vestidos com aquele short-meia-calça (não sei como chama). Tinha uma mesa no meio. Uma vasilha com água e vários pedaços de atadura gessada. Os atores iam pegando as ataduras, molhando na água e cobrindo o rosto como se estivessem fazendo uma fôrma de cabeça de boneco. Eles foram se ajudando até cobrirem todo o rosto deixando espaço apenas para respirar e enxergar. Depois da face toda coberta, eles fizeram movimentos que me lembraram seres primitivos, como homens-macacos acompanhando a música que nos embalava à performance. E por fim, com gestos bruscos, arrancaram as máscaras-cabeças de gesso que lhe cobriam.
A minha mente me confundiu no fim da noite. Lembro da Raquel Mützenberg e a sua performance “Maiêutica” andando pela festa, interagindo com suas contrações em meio ao público com seus olhinhos de boneca tão expressivos que parecem humanos mesmo. Às vezes mais humanos e cheios de sentimentos que os próprios. Ela se despiu da maiêutica e o Fabio Motta a fez transcender com a bondage.
E por fim, André Gorayeb, meu amigo Gora e as suas mãos sobre uma foto de Henrique Santian. Era uma lona grande, e por cima Gora fez uma intervenção com seus traços e tinta spray. Em volta do seu material e de si mesmo, havia uma proteção de sal grosso. E pra finalizar, ele juntou esse mesmo sal grosso e urucum em uma vasilha e atirou aquela mistura na “tela”. Senti os respingos que me atingiram e aquilo me fez parte da performance. Deu pra sentir toda a energia do artista ali. Foi forte.
Teve muito mais coisa que não coube aqui. Teve discotecagem performática, teve projeção de vídeo, teve Almerinda fazendo aniversário e outras performances que não acompanhei.
A Performática foi isso e muito mais, porque eu nem consegui participar de tudo o que rolou. E pra mim, Cuiabá precisa de mais ambientes como esse. Depois desse dia acho que a noite cuiabana não pode ser a mesma. Já não é mais a mesma.
Muito bom o texto! Leve e fluído, senti a festa daqui e lamentei por não ter ido! que venham mais festas como essa! 🙂
uau!!!!!!!!!!!!!! viva arte urbana!!!!!!!!!!!!!!viva noite cuiabana!!!!!!!!!!!!!!