Por Luiz Renato de Souza Pinto* 

Quando a gente torna público um pensamento, uma ideia, um desejo, não temos bem a dimensão do que pode ocorrer. Isso ocorre em função da propagação de uma maneira muitas vezes singular de ver determinada questão. Gravar uma canção, externar uma opinião, publicar um livro são, portanto, maneiras de se dizer o que pensa e contrariar o instituído como padrão de normalidade. Estamos vivendo um tempo em que a originalidade tem sido condenada em nome da homogeneização dos discursos, do nivelamento por baixo dos padrões de consumo e uma multiplicação inconsistente de elementos culturais que têm deformado o patrimônio imaterial da humanidade.

Isso posto, observamos que em todas as áreas do conhecimento isso tem ocorrido. Na música, os ídolos já não têm o mesmo apuro estético de outros tempos, na literatura não há porque ser diferente. Não se trata aqui de criticar este ou aquele artista, mas sim de compreender as bases materiais sobre as quais se edificam esses discursos e o consequente nivelamento dos resultados. A Estética da Recepção preocupa-se com as distintas maneiras pelas quais os discursos são recebidos, assimilados. A Sociolinguística, com a pluralidade das linguagens, condutoras da discursividade.

14681836_315019362206005_635224763075263380_nHá muito prêmios literários em nosso país, responsáveis pelo lançamento de novos autores, publicação de obras interessantes, que funcionam como uma antena para a produção diversificada de nossa literatura. Em Mato Grosso temos vivido momentos de erupção literária consistente nos últimos anos. E os prêmios literários (finalmente) têm contribuído para essa propagação. Ano passado participei desses editais (mais uma vez) e fui contemplado em primeira fase no município e no estado. Barrado na avaliação técnica em nível de Mato Grosso, meu projeto seguiu avante pela prefeitura e estamos agora lançando Duplo Sentido no dia 21/10 a partir das 19h30min no Gran Bazar, Largo da Mandioca.

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Carlos Barros e Luiz Renato

Este livro, fruto da parceria com o escritor pernambucano Carlos Barros, comemora vinte anos de isolamento de uma amizade que começou em Curitiba, circulando pelos bares e eventos literários da capital paranaense. São crônicas que abordam aspectos distintos da condição humana e questões relativas à arte e cultura nacional. Carlos está entre nós desde o dia 13/10 para desenvolver atividades junto ao Instituto Federal de Mato Grosso, cursos do Departamento de Eletroeletrônica, do projeto de pesquisa “Em meu seio há liberdade” e, a convite do professor Noel Constantino, coordenador do curso de bacharelado em Turismo do IFMT, fará palestra acerca de representações poéticas da cidade de Recife, através do olhar de diversos autores da Veneza brasileira.

bob-dylan-52fe6be6-heroHoje pela manhã (escrevo este texto em 13/10) saiu pela manhã a divulgação do prêmio Nobel de literatura de 2016. O vencedor foi o músico americano Bob Dylan, por ter criado uma nova expressão poética a partir de suas músicas. Acho muito bacana a ideia. Gosto da música do americano desde que me conheço por consumidor, mas fico intrigado com essa perspectiva em que se transforma o Nobel deste ano. Fico pensando se Chico Buarque não mereceria um prêmio desse quilate.

20140618chico-buarque1Autor de músicas que sempre contaram boas histórias, entre elas Geni e o Zepelim, A menina do Tuiuti, Feijoada Completa e muitas outras, autor de diversas peças de teatro como Fazenda Modelo, Calabar e Ópera do Malandro, tinha mesmo que enveredar pela linguagem romanesca. Estorvo, Benjamim, Leite Derramado e outros demonstram esse vigor narrativo e o compromisso com uma dimensão histórica profunda na qual mergulham personagens típicos desses tempos de hoje.

Fico só pensando e quero deixar claro que isso é apenas uma opinião. Gosto demais do Dylan, repito, mas não sei se esse furacão conservador que aniquila as bases de uma profunda reflexão filosófica que atende às demandas do neoliberalismo tem promovido algum bem à humanidade, tão carente de bons exemplos e de um senso estético mais apurado: só acho!

*Luiz Renato de Souza Pinto, poeta, escritor, ator performático e professor.

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Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

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