Por Glauber Lauria*

 

“É uma era de meretrício exausto tateando por seu deus.” James Joyce

 

– Traças tão triste teu destino

em esquivos traços

esboças

uma tragédia!

 

– Não traga em teus passos

estes colapsos

de artistas trágicos

sejas, uma comédia!

 

– Sibarita contagiosa

teu niilismo é uma praga!

 

– Ou seria minha voz uma adaga?

 

– Tua poesia não serve de nada!

 

– De que servem dependuradas espadas?

 

– És o vício personificado!

 

– Sou o segredo de Vênus, a alma do teu filho, o coração de tua esposa, o falo que te empala!

 

– São belas tuas palavras…

 

– À Beleza tudo se entrega.

 

– Mas corrompes…

 

– A sociedade é uma corruptela.

 

– Mas é o que temos…

 

– Não presta!

 

– E é a vida então um grande sorvedouro?

 

– Alguns assistem ao martírio alheio

outros se enfastiam com o Belo

todos são em essência misantropos

adoram deuses odeiam humanos seres

 

– E não podes com tua beleza nos redimir?

 

– Vocês a conspurcaram

vilipendiaram o que tinham almejado

criaram cadeias

alvejaram dardos

 

– Não podemos então ser remediados

navegaremos Letes abaixo

últimos dos chorumes condenáveis?

 

– Execráveis seres que são

serão por si mesmo lamentáveis

 

– A punição é severa

dada a ignorância dos que praticaram tais atos

 

– Não imponho castigos

são por mim deles alertados

 

– Sibila, consagrada em anos pelos grãos que da mão de Apolo escorriam

que trocastes a eternidade por invulgar velhice sabedoria

que esquecida das jovens vaidades

és agora

encarquilhada Sibila!

Fazei-me descer ao Hades

ser por nefandas regiões conhecido.

 

– Não mereces, mortal, ao apelo de tua sanidade

descer aos Ínferos desconhecidos!

Crês, que como Enéias, hás de ver a imortal Dido?

Saibas que a diferença entre ser reles e nobre é não ter-se ao sacrifício oferecido.

Tua tragédia, teu morticínio.

 

Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. 
Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, 
já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros 
e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, 
Expresso Araguaia e A Semana.

 

 

 

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