Por Glauber Lauria
Quando a vi
sentada nos degraus recobertos por fezes de pombos
com livro cigarro copo e agenda
pensei comigo
mais uma alma desgarrada
devorando linhas compondo versos engolindo venenos
com a bunda ainda inchada do último chute;
olhei-a cético amargo misantropo em meu solilóquio:
vou ter que achar outro lugar para:
devorar linhas compor versos engolir venenos
repousar a bunda ainda inchada do último chute;
era manhã
não havia nenhuma perspectiva para a vida.
– o que será que ela lia?
talvez Quintana, Cecília, Hilda?
talvez nem fosse Poesia.
será que tinha gastrite?
será que sua mão tremia?
será que havia chorado neste triste dia? –
arrastando as cartas a Théo
agenda caneta e melancolia
pedi cerveja
era manhã
não havia nenhuma perspectiva para a vida.
quando voltei
ela havia desaparecido
tinha um maço de cigarros vazio
por sob este uma folha onde estava escrita apenas uma linha:
Quando o vi, sentado nos degraus recobertos por fezes de pombos…
Glauber Lauria é poeta e publica regularmente aqui na Cidadã(o) Cultura. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.
Que poema! Bom demaissss. Dá gosto de ler o que parece falar e a gente se põe a ouvir.