Por Glauber Lauria*
I
Despótica, Vênus atira-me suas ofertas
São ninfas glabras, ainda imberbes
Devoto afoito, devoro-as
Neste templo é sempre dia de festa
II
Julgue a febre quem a possui
Pecado e crime juntos
Amor é diverso da lei
Desejo tem próprio estatuto
III
Ama a rosa e a estátua
A beleza que fica e a que passa
Amor por entre flores e mármores
É sempre o ideal do esteta
IV
Dá-me de tule uma gaze
E envolvê-la-ei como há uma fada
Tens perfumes de reis
E nos ombros escondidas asas
V
Cai antes que a sede cesse
Pecar é quase uma prece
Amor a todos enaltece
É bom estar em sua rede
VI
A Vênus renda graças
Outra deusa não conheço
Se amar é um erro
Quero toda uma vida errada
VII
Não deves fugir ao Amor que pede
Não se rejeita de Afrodite a messe
Todo desejo suplica em prece
Negá-lo é ser um total néscio
VIII
Se colho rosas por onde passo
É porque distribuo pétalas no caminho
Vênus as vai semeando
Eu podo-lhes os espinhos
IX
Se por vezes os dedos rasgo
É por aspirar-lhes os perfumes
Vivo em um jardim sagrado
A sentir dos mortos os numes
X
Tenho espírito em tal estado
Tudo ao amor tenho consagrado
Que morrer não é mais um fardo
Morrer bem seria de meu agrado
*Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.