O telefone toca. A tarde modorrenta. Cuiabá arde. Como sempre o inesperado em rompante. Alô! Aline Figueiredo do outro lado da linha.
Alô! Aline? Uai, como você sabia que era eu, pelo telefone marcado, ou pela voz?
Reconheci pelos dois modos praticamente ao mesmo tempo, rs.
Parece que estou falando com André.
O Balbino? Você ligou errado, Aline?
Não senhor! Liguei pra você mesmo. As vozes se parecem, não é? Rsrs
Eduardo, estou indignada. Passei em frente à Rodoviária de Cuiabá e não suportei ver aquela passarela ridícula que colocaram em frente, apertada, espreme todo mundo. Uma interferência abusiva na paisagem.
Argui que sim, obra mal feita, mal calculada, desconfortável, desumana, tanto para quem usa, como para a visualidade.
Aline continua a se indignar. Pior mesmo, Eduardo, foi quando voltamos, em sentido contrário, quando olhei para o prédio, uma obra arquitetônica fantástica, inaugurada em 1979, concebida pelo arquiteto Moacyr Freitas, com participação do colega Paulo Mendes da Rocha, considerada uma das maiores criações arquitetônicas de Mato Grosso e do Centro Oeste, vi que cobriram o vermelho de azul. A cor vermelha dava mais leveza e sensação de profundidade, uma referência ao elemento terra. Ora, ao elaborar uma obra o arquiteto pensa como um todo, existe até um memorial descritivo, detalhando os elementos da mesma. Então, ao dirigir os olhos para o prédio levei um susto, não vi a Rodoviária, vi um prédio repintado de azul. Levei um susto! Não reconheci a bela obra de arquitetura que estivera ali até ontem, mas quá! Estão nos roubando as cores, Eduardo! Não posso mais usar amarelo que é de Bolsonaro, vermelho é PT, nem é PT mais, é comunista. Azul é PSDB. Isto é apropriação indébita! Devolvam-nos as cores! Devolvam as cores para a arte. Perdemos até a liberdade de escolher as cores, isto é o assassinato da plástica!
Aline, continuou falando, que precisamos fazer alguma coisa, já ligou para Portocarrero, para Vera Bagetti, Humberto Espíndola e várias outras pessoas que pensam a cidade. É preciso mostrar que estão errados, que podemos pensar a cidade com inteligência e sensibilidade.
Lembramos ainda da escultura do Wlademir, na Praça do Chopão, tiraram, trocaram, sem consultar ninguém, sem ouvir a cidade, e até hoje a obra está jogada em algum canto por aí, sabe-se lá em que condições.
*A ironia disso é que na época em que a obra foi inaugurada ainda não existia o PT. O vermelho vagava livre por aí.
**Aline, com seu toque de humor pantaneiro ainda me solta essa: Eduardo, você sabe que eu gosto de andar de “uniforminho”, pois agora vou comprar dez bermudas e dez camisetas de cor vermelha, para andar por aí!
Ora essa!
Uma ótima reflexão.
Sobre a obra da rodoviária gostaria de fazer um comentário
Na época que foi construída e inaugurada fiz fotos dela e de mais obras como o Edifício Maria Joaquina e do Prédio da atual prefeitura para o então Engenheiro Cássio Vieira de Sá que já cego Para seu livro de suas magníficas obras arquitetônicas
Vejo agora no texto a não citação do seu nome a obra da rodoviária
Achei estranho ou realmente ele não foi autor do projeto
[…] nos contagiava, opa, estamos na mesma vibe do Brasil, do mundo e Cuiabá sob intensos trabalhos de Aline Figueiredo, Humberto Espíndola, João Sebastião, Dalva de Barros e Clóvis Irigarai, esses são […]