Por Glauber Lauria*
I
vendo minha alma por trinta dracmas de prata
vendo minha alma em festa
posso muito bem viver sem ela
vendo minha alma ao primeiro que passe
vendo minha alma para quem dela o que quiser faça
vendo minha alma bem barata
mesmo que a princípio ela pareça cara
vendo minha alma para ver quem com ela possa
retê-la é coisa que dinheiro não paga
manejá-la é como desenhar sobre a água
minha alma, feia estrela náufraga
minha alma, pequena nau naufragada
vendo minha alma por nada
quero ver quem a paga
II
vendo minha alma em concordata
ansiolítica
alma bem pouco prática
vendo minha alma abstrata
meio bêbeda meio machucada
não é uma alma estanque
é uma alma em marcha
pode ser revôlta
não é uma alma pacata
talvez tenha alguma traça
pega poeira
alma encostada
raramente joga pragas
mas quer sempre ser lisonjeada
não se trata de alma fácil
mas quer ser bem tratada
vendo minha alma agora
por míseras trinta dracmas de prata
é uma alma para poucos
é uma alma para nada
III
vendo minha’lma helênica
toda romana e grega
alma que ignora a escrava
para ser dela servida
vendo minha alma rara
para crispar transeuntes ausentes
vendo minha alma pária
para que assim ela não seja
vendo minha alma pára
que escrava ela esteja
IV
tenho a alma à venda:
há quem a queira?
posso oferecê-la em holocausto
há quem com ela possa?
minha alma, não vale nada
Glauber Lauria é poeta mato-grossense e mora no mundo. Nascido em 1982, publicou de forma independente o livro Jardim das Rosas em Caos, já participou de três antologias em diferentes estados brasileiros e possui poemas publicados nos seguintes periódicos Sina, Acre, Fagulha, Grifo, Expresso Araguaia e A Semana.
Maravilhoso!