Há alguns meses me deparei com o trajeto de um casal que uniu o amor à arte em um conceito para a vida. Havia tentado um contato para uma entrevista anteriormente, mesmo que naquela ocasião não tenha dado certo, sabia que hora ou outra encontraria com eles estacionados em qualquer esquina.

Marília Bonna e Thiago Sinohara rodam com o Fusca Sebo abarrotado de vinis, livros, desenhos, e o que mais a criatividade permitir. Neste projeto encontraram a troca de experiências e existências, valendo-se da economia criativa para espalhar cultura por onde estacionam o fusca vermelho, que por si só já tem muitas histórias para contar.

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Cheguei no Gran Bazar Pac para o “Terças Poéticas” e me deparei com o fusca estacionado, os livros nas estantes, os vinis, a música dançando pelo disco na vitrola, as fotos penduradas, desenhos, imãs de geladeira, cds, dvds. Enfim, uma miscelânea de possibilidades para a expressão artística. Começamos a conversar e desenrolar o fio da história, conhecer um pouco sobre este projeto que encanta quem também se identifica com a preservação da história, da cultura, da arte, dos objetos.

Foto: Naira Iasmim
Foto: Naira Iasmim

Ela carioca e ele cuiabano, conheciam-se da época da escola. Cada qual seguiu seu caminho até que se (re)conheceram e deste reencontro a certeza de que estariam juntos. “Quando nos reencontramos e nos reconhecemos, foi diferente, eu senti que ficaria ao seu lado durante muito tempo”, divide Marília.

Com a vontade de mudarem as vidas e rotinas profissionais, ela jornalista (e escritora, esta arte que é inerente ao seu ser ainda a acompanha) e ele arquiteto (artista plástico, desenha e fotografa). Saturados dos respectivos mercados de trabalho, resolveram virar a página e iniciar um novo capítulo neste livro. A ideia inicial era ter uma Kombi para poderem circular por todo o país, estar em movimento, em constante mutação, transformação. Resolveram arregaçar as mangas e botar para rodar o fusquinha que Thiago possui há 10 anos.

Agora vivem e não só sobrevivem.

Foto: Facebook Espaço Magnólia
Foto: Facebook Espaço Magnólia

“Era preciso começar, e como teria um custo alto para montar a Kombi, pensamos em começar logo com o fusca para ver como seria e a ideia virou. As pessoas gostaram”, conta Marília. E assim, o automóvel de 1969 começou a percorrer as ruas de Cuiabá em fevereiro de 2016. No início o acervo era composto pela coleção pessoal do casal. Agora, vivem de colaborações, doações e o sempre pertinente garimpo.

“As pessoas possuem coleções incríveis, conhecemos um cara com uma coleção de gramofone e outro de carros antigos”, disse Marília. Ou seja, a troca não se dá apenas com as pessoas que adquirem suas relíquias, mas também com a diversidade dos colecionadores em Cuiabá.

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Com muitas histórias para contar, o fusquinha consegue levar todo o sebo e recentemente conseguiram até dar carona para uma amiga. Quase a brincadeira de quantos palhaços cabem em um fusca. Entre as aventuras vivenciadas no Fusca Sebo, Thiago e Marília viram o bagageiro quase cair em plena avenida Fernando Côrrea. “Eu digo para a Marília os arranhões que acontecem com o fusca, são as suas cicatrizes, fazem parte da sua história”, afirma Thiago.

Também encontraram com o antigo dono do fusca, comprado em Tangará, que reconheceu o automóvel e conversou com eles. Trocaram telefones e um dia esperam ouvir a sua história anterior. Levaram um pouco mais de felicidade às memórias com o fusca, afinal, continua a pleno vapor e com a nobre missão de espalhar arte pelas ruas de Cuiabá.

Em 2017, a expectativa é aposentar as atividades do fusquinha e enfrentar uma nova jornada com a Kombi, assim terão mais espaço para levar os vinis e livros, e viajar.

Foto Facebook Fusca Sebo
Foto Facebook Fusca Sebo

Entre os livros que garimpei no Fusca Sebo, estão “Cidadela” do Saint-Exupery indicado pela minha tia, a poeta Isis Marimon e “Textos Anarquistas” (edição novinha embalada no plástico) do Bakunin. Pela bagatela de 24 golpinhos. Encontrar o livro Cidadela foi mais uma sincronicidade do Universo.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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