Depois de seis anos colorindo as ruas das cidades por onde passou, ele volta para as telas. E neste reencontro com o início de sua relação com as artes plásticas, Babu seteoito procura pela profundidade. “Onde encontramos a profundidade? No fundo do mar, no espaço, em nós mesmos”.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

Como um escafandrista ou um astronauta, Babu mergulha nos recônditos de sua própria história para narrar as representações do que viveu nas telas que misturam pintura com stencil. Sua “Profundidade” está exposta na Casa do Parque e não para por aqui. No dia 20, “Abissal” embarca para São Paulo na Blaze Gallery e o retorno já está marcado com “Minha Natureza” para acontecer no SESC Arsenal.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

São três exposições diferentes, que compõem a mesma narrativa que encontrou. Estas composições contam as histórias de sua própria vida. Os barcos de papel que representam a relação entre o pai e a mãe. “Meu pai morreu de amor”. Sete meses depois de falecer a mulher que sempre amou, uma história de idas e vindas em barcos de papéis que durou uma vida inteira.

Meu grande amor, somos dois barcos tristes
Que navegamos sempre em ondas fortes
Porque seguimos rumos diferentes

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

O coração estava presente nas últimas séries que produziu, inclusive na rua. Mas é tudo junto e misturado: tela, pintura, desenho, grafite, tudo se mistura. Tudo se relaciona para contar o que se pretende. Um dos corações é um Sodréliano em homenagem ao pintor Adir Sodré. O astronauta percorre o Universo em uma tela. Barcos de papel que se vão com o ir e devir das ondas do mar. A natureza que cresce em meio aos signos urbanos. Babu criou plantas e usou as da própria memória. Oito filhos de mãe benzedeira que apanharam bastante de espada de São Jorge, relembra o artista.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

É o estado de profundidade. São suas heranças, a lembrança das plantas da mãe, do quintal cuiabano, dos seus ladrilhos. De toda uma memória que o remete à infância, ao sentimento de lar.

“Hoje eu tenho a vida que sempre sonhei desde criança e quero me descobrir cada vez mais, este é só mais um tentáculo da minha veia artística”. Em sua visão, ainda existe um abismo muito fundo que atravessa a arte urbana entre Cuiabá e São Paulo.

Foto: Carol Marimon
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E isso começa pela cultura que se tem. Babu foi preso por expressar sua arte, responde à processo que o Estado moveu contra ele por fazer grafite, confusão com moradores, repressão.

O reconhecimento de sua arte é um fortalecer do próprio grafite, da resistência da arte urbana, das ruas. E é este comprometimento com as ruas que o artista precisa ter, opina Babu: “é um compromisso com as ruas, com a cidade, com a cultura e história do grafite”.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

“Na década de 90, 80, vi muita pintura em viadutos, passarelas, postes, painéis de Gervane de Paula, Adir Sodré, Jonas Barros. Mas não é grafite”.

A temporada de exposições começou com Irigaray Arte e Cidade e depois com o prêmio incentivo do Salão Jovem Arte. Agora, assina seu nome individualmente para mostrar ao mundo o seu trabalho. É a arte urbana para além das ruas.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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