Por Reinaldo Marchesi*
As malditas palavras do Senador Cristovam para o Dia dos Professores: “temos que fazer sacrifícios agora para termos Brasil daqui 20 anos”
O “professor e polemista”, assim descrito na autodefinição de Cristovam Buarque (ex ministro da Educação do governo Lula, hoje aliado de Temer); atualmente professor universitário e Senador pelo PPS. A respeito da PEC do teto de gastos públicos ele diz: “Vivemos o caos econômico. E aí precisamos de três medidas: um, abrir os olhos para a realidade; dois, querer entender, e não estamos querendo entender por causa de uma briga de Fla-Flu; terceiro é olhar o futuro, porque estamos prisioneiros dos votos para daqui a dois anos”.
Hoje, no Dia do Professor, não há muito o que comemorar diante da maldição das três medidas propostas por este Senador que entrará para os livros de história junto aos nomes dos traidores do povo brasileiro. Nesse sentido, em resposta as suas malditas palavras, tenho três considerações a fazer:
- “Abrir os olhos para a realidade” é vosmecê reconhecer que os brasileiros leem, em média, dois livros por ano. Há pessoas no nosso país que nunca compraram sequer um livro. Pense nisso! Um país com milhares de jovens e adultos ainda analfabetos, um país com falta de creches para os filhos dos trabalhadores. “Abrir os olhos para a realidade” é enxergar o abandono das populações do campo, povos indígenas e comunidades tradicionais que ainda vivem sem escolas em lugares remotos do Brasil. Pense nisso!
Temos que “abrir os olhos” para os falsos governantes que preferem cortar nossos benefícios sociais do que taxar a riqueza de meia dúzia de famílias que mandam nesse país. “Abrir os olhos” é questionar porque vosmecês são os políticos mais caros e improdutivos do mundo. Pensem nisso! Vosmecês deveriam abrir os olhos para aprender com o exemplo dos políticos japoneses, que nem depois de uma bomba atômica congelaram os recursos da educação, muito pelo contrário, reconstruíram todo o país como potência graças ao aquecimento do setor com ainda mais recursos.
- “Querer entender, e não estamos querendo entender por causa de uma briga de Fla-Flu”.
Vosmecês acreditam mesmo que vamos digerir esta lorota? O presente do Dia do Professor vem com um pacote temeroso de maldades, embalado para esconder que somos nós – o povo – quem sempre pagamos pelo pato, vinho e caviar dos vossos banquetes feitos de portas fechadas. Não podemos nos silenciar diante do descaramento de vosmecês que engordam suas barrigas tirando de nossos pratos, desde os tempos da escravidão. Para que possamos sobreviver nos próximos 20 anos, haveremos de fazer uma revolução pela devolução dos nossos direitos. Haveremos de nos mobilizar para enfrentar o chicote da “flexibilização trabalhista”, desse nosso período neocolonial.
Apenas almas neoescravagistas são capazes de entender a medida de desvinculação de receitas tributárias para educação e saúde de seu povo. Neste país onde milhares nunca pisaram na escola e outros tantos que morrem nas filas do atendimento hospitalar, vosmecês desalmaram e emendaram nossa constituição afim de reduzir o acesso à universidade pública e à universalidade do SUS. Desta PEC em diante: educação e saúde, pague-as quem puder! Adeus SUS e seja bem-vindo aos Planos de Saúde. Adeus universidade pública, concurso público e bolsas. Adeus Brasil! Antes disso acontecer, abram vossos olhos, quando o povo descobrir tudo isso que realmente aconteceu, haverá violência por toda parte para que vosmecês da casa grande devolvam todos nossos direitos.
- “Olhar o futuro, porque estamos prisioneiros dos votos para daqui a dois anos”:
Sobre a PEC do teto de gastos “temos que fazer sacrifícios agora para termos Brasil daqui 20 anos”
Será isso mesmo? Fazer ainda mais sacrifícios do que já fazemos??? Não senhor Senador!!! O sacrifício que vosmecês querem não dará no Brasil que queremos. O Brasil que vosmecês querem não é um Brasil para todos.
O Brasil que queremos fará sacrifícios nos mega salários e nas grandes fortunas. O Brasil que queremos será aquele capaz de taxar justamente o agronegócio. O Brasil que queremos recobrará a dívida milionária que vosmecês perdoaram das Seguradoras e Planos de Saúde particulares. O Brasil que queremos será aquele capaz de retirar do lucro dos bancos e não das aposentadorias.
A PEC do teto de gastos públicos, tragicamente aprovada à véspera das datas que deveríamos comemorar o Dia das Crianças e o Dia do Professor, não foi um bom presente para nosso futuro. Como vosmecês insistem em nos dizer: “a PEC que salvará o Brasil”? Longe disso, ao congelar recursos públicos para educação e saúde jamais teremos dias melhores. Disso não resta dúvida: quebrar os principais direitos sociais garantidos pela Constituição Federal de 1988 é colocar nosso país em risco.
O desmonte do precioso patrimônio do povo brasileiro é o retrato do retrocesso atual de um país em situação neocolonial. Congelar recursos para as instituições públicas de ensino e pesquisa é o anúncio da perda de nossa soberania na produção do conhecimento, que é o resultado do trabalho de universidades e instituições públicas que são responsáveis pela pesquisa no Brasil.
Para salvar o Brasil, o caminho será continuar investindo ainda mais em educação. Não há receita milagrosa de qualquer país que tenha feito algo diferente e tenha dado bons resultados. Desmontar a educação pública é desmontar toda expectativa de futuro em relação aos povos que precisam de conhecimento de ciência e tecnologia para poderem construir uma outra perspectiva de vida.
*Reinaldo Marchesi, é professor contra a PEC 241, é contra o Golpe!
Para saber mais sobre o efeito da PEC 241 na educação pública brasileira: acesse a entrevista recente do professor Roberto Leher (Reitor da UFRJ), a quem tive a oportunidade de conhecer e entrevistar ano passado, abordando a discussão sobre as políticas do Banco Mundial para os países da periferia do capitalismo.