Esse ano tive a oportunidade de ir pela primeira vez ao Festival Bananada em Goiânia, realizando um grande desejo pessoal e profissional, pois acredito que seja uns dos maiores festivais de música do Brasil atual.

De 8 a 14 de maio tentei viver o máximo da experiência goiana, não só ouvindo sua música, mas também andando pelo centro curtindo aquele solzinho gostoso, visitei o mercado municipal, comi queijo trançado, empadão de frango com pequi, PAMONHA, fui ao beco da Codorna (com vários murais e grafites), me infiltrei nos ensaios do Carne Doce conhecendo a adorável casinha no Jaó, e vários outros cenários que fizeram todos os meus dias perfeitos.

Como sou de Mato Grosso já tenho uma paixão nostálgica pelo cerrado, por isso esse texto pode parecer tendencioso aos lados positivos.

beco  carneeee

Nesta edição o festival contou com 108 artistas que se apresentaram ao longo da semana, de segunda à quarta em bares, casas de shows e teatros, e de quinta à domingo no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Um dos dados que me instigaram a ir ao festival foi que 30% da programação era composta de mulheres, uma porcentagem pequena se formos comparar ao tanto de material feminino sendo produzido, mas muito grande em relação à outros festivais nacionais e internacionais. Segue uma lista de todas as apresentações de mulheres/com mulheres que rolaram esse ano:

Bruna Mendez
Niela
Chell
Cherry Devil
PAPISA
Miêta
Lari Pádua
My Magical Glowing Lens
BRVNKS
Ventre
Far From Alaska
Lava Divers
Hierofante Púrpura
Luiza Lian
Carol Sterica
Athena Ilse
Lulu Praxedes
Céu
Akua Naru
Plutão Já Foi Planeta
Maria Gadú
Liniker E Os Caramelows
Carne Doce
Consuelo
Come And Hell
Morgana
Karol Conká
Gabb Borgheti
Tulipa Ruiz
Teto Preto
Rakta
Wine B
Sarah Abdala

Tentei ver o máximo da programação que pude, e aqui estão as minhas melhores impressões de toda essa experiência:

Foto: I Hate Flash
Foto: I Hate Flash

Bruna Mendez (GO)

Já havia escutado seu CD “O Mesmo Mar Que Nega a Terra Cede à Sua Calma” por sempre procurar artistas goianos, mas ver sua apresentação ao vivo mudou completamente minha opinião. Todas as músicas tem um certo tipo de coesão melódica entre elas, um estilo único, e apesar de românticas e reflexivas Bruna esbanja sorrisos e simpatias durante os intervalos do show. Vi sua apresentação no teatro do Sesc, pelo o que entendi a família dela estava presente, a interação e emoção entre elas foi algo realmente bonito de presenciar.

Miêta (BH)

Miêta é uma banda com um front line (2 guitarras, baixo, vozes) de 3 minas que quebraram tudo no Shiva Alt-Bar, confesso que não estava preparada. Já tinha visto o clipe de “Pet” no youtube e achei que iria curtir um show de shoegaze viajandão (inclusive amo), mas encontrei um rock’n’roll agitado provando que guitarras estridentes e um baixo a la Kim Gordon ainda funcionam.

Foto: Rodrigo Gianesi
Foto: Rodrigo Gianesi
Foto: Rodrigo Gianesi
Foto: Rodrigo Gianesi
Foto: Rodrigo Gianesi
Foto: Rodrigo Gianesi

PAPISA (SP)

A primeira vez que vi esse nome foi vagando pela timeline da rede social ao lado e vi Salma Jô compartilhando o clipe de “Instinto”. Visto que Salma escreve as melhores letras desse mundo pensei “só pode ser coisa boa”… Não deu outra.

Fui conferir um show na Trackers e cai o queixo já na primeira música, o som me envolveu completamente o tempo inteiro (estar colada nas caixas de grave ajudou um pouco). Depois de ver mais um show em Goiânia venho escutando seu EP todos os dias.

Ventre (RJ)

Todos que já foram à um show do Ventre (inclusive eu) falaram: “Você viu aquela baterista?”. Não tem como escapar, Larissa Conforto rouba os olhares quando toca impecavelmente e sorri com leveza, um sorriso que faz você querer aprender a tocar bateria, de que parece tudo muito fácil e gostoso. Sua apresentação junto a banda paulista E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante no teatro do Sesc foi realmente um dos shows mais bonitos de se ver no Bananada.

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Foto: Theodora Charbel

Akua Naru (EUA)

Akua Naru é uma rapper negra de 38 anos dos Estados Unidos com uma mega banda que toca Hip Hop, Jazz e Soul da qual eu nunca tinha ouvido falar e acabou sendo um dos melhores shows que já vi.

Seu inglês não a impediu de conversar com a platéia praticamente o tempo inteiro animando a todos e arriscando algumas palavras em português. Sua voz, visual e movimentos eram fortes e contagiantes, me lembro de dançar bastante.

O final foi extraordinário com uma versão de “Feeling Good” da Nina Simone para todos se emocionarem e filmarem.

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Luiza Lian (SP)

Já havia visto alguns videos dela com o formato de banda, mas foi pelo seu álbum visual “Oyá Tempo” que me apaixonei. Tanto as músicas quanto o filme são extremamente sensoriais e penetrantes, o assisti pela primeira vez com som alto e luzes apagadas como ela mesma sugeria na legenda, e desde seu lançamento não parei mais de escutar.

Ver seu show no palco Spotify (do Mancha) foi concretizar todas as minhas expectativas. Além da energia sincera sua estética é uma verdadeira ocupação no palco com figurino lúdico e projeções, vale a pena conferir de perto.

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Carne Doce (GO)

Eu não sei mais o que falar dessa banda porque quem me conhece sabe que eu falo deles todos os dias. Os conheço desde o começo de 2016 e está sendo um privilégio acompanhar a evolução e ascensão de pessoas tão queridas e que fazem músicas que traduzem meus dias. Já vi pelo menos uns 10 shows aqui em São Paulo, 1 no Rio de Janeiro junto com Boogarins, e agora em Goiânia sua terrinha natal.

Salma Jô domina o palco, os olhares e as câmeras com sua performance teatral, um verdadeiro paraíso para os fotógrafos de plantão. Em sua apresentação no palco Skol (o maior do festival) ela decidiu brincar com transparências no figurino e exibir o corpo, tais como suas letras íntimas e expostas.

Um show do Carne Doce é um verdadeiro descarrego emocional, as pessoas se abrem em “Atermísia”, cantam “Falo” com um certo ódio, pulam em “Açaí” e no final gritam todos juntos “VEM ME FODER!” de “Passivo”. Dessa vez uma das melhores partes foi Salma derrubando seu microfone com o pedal e tudo, enquanto a platéia cantava a letra de “Cêtapensano” por ela, provando que seu sucesso é físico e real.

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Foto: I Hate Flash
Foto: I Hate Flash

RAKTA (SP)
É impressionante a atmosfera que essas minas conseguem criar em qualquer lugar. Ouvi o live delas mais de mil vezes no KEXP e já sentia uma energia forte, mas só fui conseguir ver ao vivo em Goiânia.

Luzes vermelhas, fumaça, concentração, tensão.
Apesar de toda a vibe post punk e pesada o som é uma das melhores viagens que você vai ter o prazer de ouvir (mesmo se não for familiarizado ao estilo). Super recomendado. Sem Palavras.

Teto Preto (SP)
Acompanho o trabalho da Laura Diaz desde que me mudei para São Paulo há pelo menos 1 ano atrás. Fui em várias edições da festa Mamba Negra, mostrei o clipe de “Gasolina” (que inclusive foi dirigido por ela) pra muitos amigos, vi uma belíssima apresentação da Angela Carneosso e a Peste, e quando chegou o domingo de Bananada avisei a todos que esse seria um dos melhores shows do festival. Dito e feito.

Ao contrário de várias mulheres que causam simpatia no palco a Angela Carneosso é um personagem chocante, independente de estar com roupa ou não, toda a experiência é um choque necessário. A maioria das pessoas ali não estava esperando aquela performance.
Letras intrigantes, uma jam session eletrônica acontecendo ao vivo, uma voz com timbre de tropicália, muito reverb e ecos, repetições que viram verdadeiros mantras aliados de um visual futurista e espasmos dançantes, uma onda tão poderosa que te fazem duvidar da própria sobriedade.

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Só posso dizer que em 2018 estaremos lá de novo, firme e forte. Obrigada a todas as pessoas que me receberam, me deram carona, me deram um abraço, um salve ou um gole de cachaça e fizeram eu me sentir em casa.

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