deito sob as minhas pernas curvadas,
minha testa encontra o chão
eu respiro;
ali, meu corpo se desfaz
ali, o peso do meu corpo
encontra o peso do chão
naquela postura ancestral,
eu me transformo
eu era uma ave dentro de um ovo,
eu era o próprio ovo,
uma pedra,
uma ameixa fresca enquanto o ar preenchia todo o meu corpo
uma ameixa seca quando o ar se esvaía de todo o meu corpo
eu era tudo
eu não era nada
eu era o todo
eu não era nada
eu estava ali
mas eu não estava ali
eu estava ali
e em toda parte
o peso do corpo.
a testa encontra o chão
e deixa ir
pensamentos, dores, dúvidas,
traumas, medos, ciúmes, ódio
rancor, ilusão, decepção,
covardia
eu respiro
estou e não estou
sou e não sou
me desfaço
chamo meus braços,
não me obedecem;
ordeno que se levantem,
estática
fico
em repouso
o corpo dentro do próprio corpo
eu era um feto
era eu dentro de um óvulo
abrigada em um útero
de bicho ou gente
era todos eles,
não era nenhum deles;
era a pedra, o mar, o sol, a luz, as aves, os peixes,
eu era tudo
e não era nada.