Annekatrin Hendel é escritora, produtora, cenógrafa e diretora de documentários contemporâneos, nascida na Berlim Oriental em 1964, lançou nos cinemas da Alemanha em 29/11/19 o seu documentário “Beauty and Decay”, que captura a passagem do tempo marcada pela fotografia documental, é dedicado à cena de moda alternativa de Berlim Oriental e comemora os 30 anos da queda do muro de Berlim. Com fotos de Sven Marquardt e imagens do evento de 1989 do coletivo “Allerleirauh” (que realizou desfiles de moda memoráveis da cena punk berlinense), transporta o público à Berlim underground dos anos 80.
A fotógrafa e designer de moda da grife “chic, charmant und dauerhaft” (chic, charmosa e durável) Frieda von Wild, lembra: “o sentimento de liberdade que decorreu por esses espetáculos de moda – celebrações coletivas da nossa estranheza, diversidade e desejo de sensualidade – era tudo potencialmente contagiante. Mais de uma vez a história provou que uma faísca de insubordinação pode se espalhar como fogo.”
Costurar suas próprias roupas na Alemanha Oriental era um ato sutil de resistência contra o regime. As roupas disponíveis nas lojas eram desinteressantes para os que gostavam de moda. As mulheres criativas e “diferentes” queriam suas roupas criadas/costuradas por elas mesmas e para isso tinham que ter sua máquina de costura, agulha e linha, porque a moda era inseparável da política, portanto, quem costurava protestava silenciosamente contra o sistema rígido e padronizado.
A muralha de 106 km caiu há 30 anos celebrando uma revolução pacífica. Em um momento mundialmente difícil, onde pessoas discursam com ódio e constroem novas paredes, Berlim simboliza a paz, a liberdade, a individualidade e 30 anos após a queda do muro, o mundo parece estar dividido por novas barreiras políticas e sociais. Precisamos romper com as paredes da indiferença e do retrocesso. Para pensar e refletir cito aqui uma frase de Albert Camus: “a única forma de lidar com um mundo sem liberdade é se tornando absolutamente livre de uma maneira que a sua existência seja um ato de rebelião em si mesmo.”
