A dor foi isolada. Guardada dentro de uma caixinha. Dentro de um baú. Lá no fundo da memória, nas lembranças em uma noite chuvosa. A gente quebra. Mas junta tudo e coloca os cacos de volta no lugar. Cria um mosaico. Várias cores. Várias dores.
Na real, parece que a vida é feita de dor.
De um sofrimento que a gente sempre carrega no ombro. Primeiro ele nasce no peito. Aquela dor, aquela angústia, aquele trem que é tão grande e você não consegue carregar sozinho.
Depois ele vai pros ombros, mas só quando você já tá forte.
“Seja forte, você tem que ser forte”. “Porra que clichê”.
“Véi, é cliché mas é real”.
É clichê dos brabos, mas é uma realidade, a meu ver (ninguém dita regras pra esses trem né). Você nasce e é tudo lindo, depois você cresce tendo que ser forte. Mas chorar faz parte, né? Tem que aliviar a dor de alguma forma.

Croc croc. Que som forte. Dizem que quando você mastiga, coloca uma força de tantas quantas toneladas (google it Carol, pra postar legal ter uns dados né, ou não, tanto faz, quem sabe eu te instigue a pesquisar né cara?).
Essa gata tá comendo de novo? Porramm! Já coloquei comida pra ela antes e ela tá lá comendo as sobras da outra de novo.

Já são oito da matina e eu to aqui. Chove. Bastante, mas é aquela chuvinha de molhar bobo sabe?  Fininha e panz, mas sem parar e com pressa. Com pressa de molhar os bobos.
Acho q vou ser uma boba e entrar nela. Debaixo dela? Dentro dela?
Algo do tipo né. Tomara q ninguém acorde e veja uma boba debaixo da chuva.

A dor de todos, dos outros, a nossa, às vezes pode parecer boba, pequena diante tantas dores maiores carregadas por ombros tão pequenos e frágeis, mas cada um sabe o que leva, só cada pessoa entende qual é o tamanho e a dimensão da dor que carrega.
Tanta dor e tantos ombros pra levar, né?
Melhor entrar na chuva e deixar ela levar tudo.

Ok, olhei pro lado e a chuva na verdade já parou. O barulho do ar condicionado confundiu minha cabeça. Toda hora ouço portas se abrindo. Acho que é alguém e me assusto. Mas deve ser só o bar ao lado abrindo. Afinal, agora já são umas 8h30.
Saio do quintal e entro na cozinha. “Mãe, quero te escrever uma carta dizendo coisas bonitas”. Bem a cara essa época. Reflexiva e tal né. Mas é.. dizem que quem inventou o papai noel e todo esse rito do natal foi a Coca. Bem que eu queria uma agora, bem gelada com limão e gelo. E canudinho pra não doer os dentes. A gente tem mania de colocar o azedo no doce né. Se pá é pra complicar tudo mesmo, o que tá doce azedar e o que ta azedo adoçar? Pô.. falei taaaanta, né. É que realmente, independente da Coca ter inventado tudo isso, o fim de um ciclo (mesmo que seja apenas mais um ano, ou na real menos um ano, nas nossas vidas) sempre gera reflexões. E esse ano foi doideira, não sei outra palavra mais crua pra definir. Tanta coisa, tanta transição. Sem tradição, só transição mesmo, corretor. Eu to aqui enchendo esse bloco de notas de abobrinha enquanto os passarinhos cantam. A minha mente não quer parar, tá vendo? Parece que quanto mais você quer desanuviar, os pensamentos te perseguem e te levam a mil por hora.

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Economista, realizadora audiovisual, produtora e ativista cultural. A arte é intrínseca aos seus múltiplos olhares.

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