A música Lanterna dos Afogados por si só consegue me emocionar, mas entoada na voz de Tacy de Campos que encarna uma das maiores intérpretes da música brasileira em Cassia Eller – O Musical, fez vibrar uma plateia que lotava o teatro da UFMT, no último sábado, e que cantou junto todas as canções.

Foram muitos momentos que despertaram minhas lágrimas. Lembrei da minha infância, ouvindo e cantando Cássia. Relembrei Malandragem na sala da casa onde cresci, iluminada pelo segundo Sol que chegava pelas janelas de vidro, a vitrola da minha mãe, os discos. Imergi no espetáculo para sentir o sopro das canções que entoaram a vida de Cassia Eller e a minha também, afinal teve versões de Nirvana e Beatles.

Todos que a conhecem a descrevem pela simplicidade e timidez, inerentes também à Cassia. Tacy de Campos consegue preencher todo o espaço com seu timbre, com a mesma força que mistura personagem e artista. Com mais de mil cantoras em audiências para o papel principal, Tacy foi descoberta pela Internet. E já não é possível dissociar sua voz da de Cassia. Penso que deveria ser assim mesmo seus shows. Imergi no som.

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O espetáculo que durou mais de duas horas – teve alguns momentos cansativos, mas as canções marcantes retomaram o fôlego – conta a história da cantora, sua relação com a música, seus amores, a parceria com Nando Reis, que é um dos momentos mais emocionantes da peça. Espectadores de uma vida cantada. E encheram os corações com a versão de Non, je ne regrette rien de Edith Piaf.

Musical é de longe meu gênero preferido, mas Cuiabá precisa retomar a cultura do teatro. De consumir espetáculos. Apesar do preço não ser acessível a todos, acabei indo à convite, senão não iria, é com o consumo que faremos esta realidade mudar.

E temos outas possibilidades como o Palco Giratório do SESC Arsenal, que proporciona ao público cuiabano um giro pelo teatro brasileiro até o dia 26 de maio. O Palco Giratório está em sua 19ª edição com 19 espetáculos na programação. São oficinas, palestras e peças que formam e conscientizam sobre a importância deste intercâmbio cultural.

A peça é emocionante sim, mas apenas resvala por temas duros como o vício em cocaína da artista, e dialoga mais com a comédia, o humor, o riso fácil. O espetáculo traz uma narrativa mais leve para uma vida pesada, intensa, densa como a de Cassia.

As canções que Tacy de Campos interpretou eram viscerais, mas por que ela como Cassia é visceral. E assim como Cassia era uma grande intérprete me surgiu a curiosidade de conhecer mais sobre a artista que reviveu sua voz.

Enfim, se o nosso público imergir nos espetáculos, sejam musicais, tradicionais, revolucionários, radicais, “soco na cara”, de rua, de formas animadas, intervenções, o que for, teremos uma cultura de consumo, e quem sabe os ingressos barateiam com a demanda. Só que é preciso existir esta troca entre público e artistas, este reconhecimento, principalmente aos nossos produtores locais. E deve despertar todo tipo de emoção, questionamento, inquietação, provocação. A arte desperta: mentes, corpos e corações.

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Peça Viver é Raso de Amauri Tangará – Foto: Divulgação

Temos teatro de qualidade mundial, como é o caso de Amauri Tangará, que com conteúdo e conceitos que dialogam com a efemeridade dos tempos modernos, nos trouxe a peça Viver é Raso na lona do Circo de Pedras, em 2014. E é chocante. Precisamos consumir o nosso teatro, que é contemporâneo, visceral, radical, senão seremos espectadores do vazio no palco.

E afinal, é sempre bom ver a casa cheia. A nossa casa cheia.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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