Depois da Segunda Guerra Mundial, Christian Dior com o seu “new look”, devolveu às mulheres o prazer pela feminilidade. Hoje, Maria Grazzia Chiuri (estilista de criação) da Dior, já citada aqui, deseja que as mulheres disponham de ferramentas necessárias para desempenhar antes de qualquer coisa, identidades múltiplas, e não personagens pré-estabelecidas. A sua coleção prêt-à-porter de Outono 2018/2019 foi inspirada na vida de Claude Cahun (1894-1954).
Claude Cahun, nascida Lucy Schwob, francesa, foi pioneira em discutir a fluidez de gênero, desafiou as convenções na primeira metade do século XX. Escritora, fotógrafa, ativista e artista surrealista nos seus autorretratos ela assumia várias personalidades, usando a androginia em suas múltiplas visões de si mesma. Adotou o nome ambíguo Claude Cahun em 1917 juntamente com sua irmã adotiva Suzanne (sua companheira de toda a vida) que também adotou o nome de Marcel Moore. Juntas foram ativistas na resistência contra a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Foram presas em 1944 (distribuíam propagandas antinazistas) pela Gestapo e condenadas à morte. Conseguiram escapar no ano seguinte, ao final da guerra.
O trabalho de Claude Cahun é referência para teorias feministas, em gênero e identidade política. A neutralidade em relação a gênero flui por todo o seu trabalho, nas fotos com roupas e acessórios femininos ou masculinos, seu rosto se transforma no que ele deseja “debaixo desta máscara, outra máscara, eu nunca terminarei de remover todos esses rostos.”
Associado aos surrealistas de esquerda da França de 1930 como Man Ray, Salvador Dali e André Bretton que o descreveu como “um dos espíritos mais curiosos do nosso tempo”, Claude Cahun disse: “como poetas não aceitamos o direito divino da força. Nós amamos desafiar forças naturais, forças políticas, egoísmo animal. Sem esse desafio e sem o amor pela revolução, que não tem sexo e nem país, eu teria morrido de ódio ou ganância.”