Acordei nesta segunda em meio às cinzas
Meu cérebro tenta recompor-se do duro golpe
As retinas deslocadas criam uma confusão orbital em minhas dilatadas pupilas
Um gosto de morte na boca
Morte do amigo Wlademir do Dias Pino, morte do Museu nacional morte do futuro e do passado
Tudo no mesmo bojo, tudo no mesmo rolo compressor da história esmagada feito farinha no pilão – esmagada pelos punhos dos senhores da Casa Grande
O brasil puta que pariu não é o Brasil que sonhamos, muito menos aquele pelo qual lutamos, estamos apartados uns dos outros pela falta de afeto com as coisas mais simples e básicas, vitimados pelo desprezo e descaso e lançados à própria morte
Enlaçados pela insignificância dos valores mais elementares quando se trata das coisas que são públicas e que nos pertencem a todos – quanta falta de aptidão em cuidar uns dos outros – a raposa cuidando dos ovos e das galinhas – devoram tudo sorrateiramente, tiram-nos em – exercício de tirania – plena noite de sono, a paz do espírito que voa e sonha com dias melhores, mas não, sempre falta, sempre a escassez, sempre a migalha e os pães bolorentos que sobram de suas mesas senhoriais jogadas no lixo do desprezo
O museu nacional precisava de 504 mil por ano, eu disse mil, não os milhões que alimentam a boca de um raposão do congresso nacional com cifras que ultrapassam o milhão
Milho aos pombos
Milhos nas praças
Milhão para os bolsos do desprezo pelo afeto e pelo amor às pessoas
Estamos em ruínas, somos cinzas se remexendo em meio ao colorido de nossa bandeira, de nossas matas, céu azul anil, amarelo ouro canário araras azuis onça pintada, as cores indígenas rios e mares e peixes, cores do samba da mpb do rap e do rock, cores do cinema, cores do povo, nossos olhos e olhares
Somos zé ninguém somos maria vai com as outras somos Geni, joga bosta na Geni
Joga merda no ventilador espalhem o fogo queimem queimem tudo, queimem as bruxas do século contemporâneo, queimem a bandeira, queimem o juiz e a toga, burn burn burn