Faz tempo que quero ir assistir a um show da galera do grupo O Samba, a Bossa e as Novas. Tenho acompanhado pela imprensa, redes sociais, comentários de amigos, de músicos, a trajetória da moçada no movimento que vem se agitando e conquistando cada vez mais espaços na cena musical de Cuiabá. Conquistaram um público fiel e cativo, que vem lotando os lugares por onde tocam. Duas casas que promovem espetáculos musicais, o Chorinho e o Bar do Bigode, por exemplo, são lugares recorrentes onde se apresentam.
Fui ao Bar do Bigode na Praça da Mandioca, em um final de tarde de domingo para apreciar um show da rapaziada e aconteceu o que eu não esperava: não consegui entrar para assistir ao show. Explico. Encontrei alguns amigos e fomos tomar uma cerveja. Duas, três, quatro…
A casa foi enchendo de gente, a fila aumentando e a rua com seus vários bares, vibrando de energia festiva. A galera estava contagiada pelo ambiente amistoso com praticamente todas as mesas ocupadas por jornalistas, músicos, estudantes, poetas, professores, profissionais liberais, etc. Muita alegria no ar. O som lá dentro começou a rolar. Um samba de primeira qualidade atravessava o corredor do Bar do Bigode e chegava aos nossos ouvidos embriagados. Uma mixórdia no ar. O bar ao lado enfeitado com bandeirolas brasileiras, parede amarela clara, mandava outra música. Música popular brasileira num mix de domingo fim de tarde. Mas o som ao vivo chegava mais forte, mais dominante, dando um brilho a mais ao lugar.
Já fazem mais de cinco anos que vem acontecendo uma ocupação progressiva do centro da velha capital mato-grossense com suas ruas tortas e casarios coloniais com ar de uma autêntica Lapa carioca em Cuiabá. Mas o impulso foi dado com em evento do qual fui um dos agitadores, que criou um ambiente de animação cultural superando todas as nossas expectativas.
Estou falando do Sarau das Artes Free, que produzimos de forma independente, semanalmente, mobilizando uma rapaziada que literalmente carregava caixas de som e cenários nas costas levando o Sarau por quatro anos. De início público pequeno, mas cresceu, criou volume, adquiriu substância e propiciou uma ocupação pacífica, cultural e artística atraindo várias figuras que para ali se mudaram e estabeleceram seus negócios. A Casa Silva Freire também se movimentou abrindo um novo espaço cultural, novos bares foram abertos, fotógrafos, artistas, enfim, o ambiente efervesceu.
Um dos lugares que se fixou e cresceu foi o Bar do Bigode que tem levado uma programação bem interessante, que privilegia o samba de raiz, a música brasileira com seus vários matizes, com um cast de artistas novos que estão fazendo história.
Raoni Ricci, Raul Fortes, Larissa Padilha, Rodrigo Mendes e Marcelinho, d’O Samba, a Bossa e as Novas, vem conquistando espaço próprio e se consolidando como um dos grandes grupos musicais de qualidade da cidade. Junto com os grupos de Choro que tem surgido, figuras como Joelson Conceição, Lorena Ly, e outros nomes, vêm afirmando um espaço forte de samba, chorinho, bossa nova, enfim, música brasileira de tradição e de alta qualidade. O repertório é de primeira. E tem gente compondo também. A música que ouvi do lado de fora consagra esse grupo como uma das boas coisas de Cuiabá na atualidade.
Lotada a casa. Quando percebi não dava mais para entrar, muito cheio, gente bonita, descolada, todos parecendo curtir demais aquele som que botava os pés a sapatearem um samba. Na próxima apresentação serei um dos primeiros a entrar e tomarei minha cerveja do lado de dentro. Mas valeu. O lugar repleto de pessoas diferentes, de todos os tipos que constituem a fauna urbana, estava bem agradável e animado, o que torna a cidade bem melhor pra se viver.