Por Laura Nabuco*

Não fazia muito tempo que eu tinha entrado num box de crossfit pela primeira vez quando ouvi a seguinte frase: esse é o único esporte em que o último a terminar é mais comemorado que o primeiro.

Não precisou de muito tempo para eu sentir na pele que era verdade. Mas foi só durante as entrevistas para esse texto que ouvi a expressão que melhor define esse “acontecimento”: senso de comunidade.

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Aquivo O.M.A.

A comunidade crossfit. A verdadeira “cola” que mantém os praticantes da modalidade apaixonados pelo esporte. Aquela coisa a mais, que leva a galera ao box até nos dias em que não vai ter treino.

“Sentir que as pessoas estão torcendo por você, às vezes sem nem te conhecer direito, é muito bom. Você cria um laço de amizade. Às vezes eu queria ir pro box mais por causa disso, do que pra treinar em si”, diz Thiago Barbosa, 16 anos, praticante desde os 14.

A torcida e incentivo da galera e a sensação de ter conseguido fazer uma coisa que você acreditava que não era possível. Chegar no limite e descobrir que ainda tem margem para mais dois ou três passos. Essas são algumas das descobertas que têm aqueles que se entregam ao crossfit.

“Eu nunca imaginei que ia tirar 20 quilos do chão um dia. Mas eu lembro que, no início, as pessoas me incentivavam muito. Foi um motivo que me fez querer cada vez mais. Além de aqui eu ter encontrado uma família, pessoas que me ajudam, amigos muito bacanas, encontrei meu esporte. É uma coisa que eu quero levar para a minha vida”, concorda Giovanna Alencar, 16 anos, praticante desde os 15.

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O mais curioso é que a camaradagem não apenas sobrevive às competições, como é elemento fundamental de motivação dos atletas. Para Bruno Tourinho, 36 anos, crosfiter há cinco anos, “ainda que você tenha um adversário, que você queira terminar antes dele, você não quer terminar vendo ele se machucar. Você quer vencer o melhor da outra pessoa. Isso que é o legal”.

O Challenge

Sim, o crossfit é movido por competições. Também contra outras pessoas, mas principalmente contra nós mesmos. Foi pensando nisso que Pablo de Souza, 37 anos, coach e dono do box Crossfit One Man Army – O.M.A, teve a ideia de promover um campeonato interno para seus alunos.

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“A ideia do Challenge surgiu em dezembro de 2015, quando eu tinha recém aberto o box. O intuito era fazer com que as pessoas gostassem de se desafiar. Eu sempre quis um negócio que as pessoas gostassem, como elas gostam de correr. Ninguém vai para uma corrida para ganhar em primeiro lugar. O Challenge vem para isso, para motivar aquelas pessoas que gostam de se desafiar”.

Na primeira edição deste ano – terceira nestes dois anos de box –, realizada no último domingo (9), 60 “atletas” toparam o desafio. Dez equipes trabalharam em conjunto, superaram seus limites, incentivaram seus companheiros e, sim, torceram pelos seus adversários.

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O resultado não trouxe títulos ou vantagens para quem subiu no pódio improvisado com as caixas de madeira destinadas ao box jump. Mas, no dia seguinte, um dia de trabalho para a maioria, a dor muscular lembrou a sensação de ter diminuído um tempo, aumentado uma carga, feito uma repetição a mais do que se julgava conseguir.

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“Eu fiz um desafio voltado para as categorias de base. Fazendo isso, fica mais fácil trabalhar o interesse das pessoas em treinar. O Challenge tem como objetivo principal fazer as pessoas se desafiarem num âmbito mais família, mais gostoso, de mais companheirismo e não de competição propriamente. Porque a competição tem dois lados: o das pessoas que gostam e ganham e o das que não ganham e se frustram. Eu nunca quis isso”, explica o coach.

Os praticantes

“Em média, quem frequenta academia, vai de duas a três vezes por semana. Já um crosfiter gasta de duas a três horas por dia treinando. E vai além do exercício. A dieta deles muda. Jogar conversa fora, para eles, é falar sobre o treino do dia”, é o que afirma o portal Vix, em um vídeo divulgado no Facebook.

A maioria dos praticantes de crossfit tem relatos de amigos não envolvidos com o esporte que se afastaram ou de queixas de familiares sobre o tempo gasto praticando a modalidade. O “vício” é motivo de piada entre os próprios crosfiters, que reconhecem: a gente só fala disso!

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Muitos não sabem explicar as razões para tamanho envolvimento. Para Thiago, a alta intensidade dos treinos é o combustível para essa rotina. Giovanna, ou Gigi, como é mais conhecida, já aponta a diversidade das atividades desenvolvidas.

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Pablo e Tourinho, ambos formados em cursos de especialização sobre a modalidade, dizem que as duas coisas contribuem para o surgimento da paixão.

“Eu sempre gostei de um treino mais puxado e de uma coisa mais diferenciada. O treino de musculação, para quem não gosta de rotina, realmente é chato. O crossfit é mais dinâmico. Você trabalha força igual na musculação, a diferença é que é muito mais rápido. Você tem uma otimização do tempo. O crossfit é mais dinâmico”, diz Pablo.

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Em alguns casos, o envolvimento faz ultrapassar a barreira do simples hobby. Thiago e Gigi treinam para se tornarem atletas. Neste ano, ele conquistou o terceiro lugar nacional, na categoria de 16 a 17 anos, em um campeonato mundial que todo crosfiter é obrigado a conhecer: o Open, porta de entrada para o Crossfit Games, mas democrático e aberto para toda a comunidade.

Já Tourinho, formado em Ciência da Computação, resolveu ingressar na faculdade de Educação Física depois do primeiro contato com o crossfit.

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“Em 2013, tirei meu Level 1 [curso de especialização em crossfit]. Desse momento em diante, me apaixonei completamente pelo crossfit. Pensei: é isso que eu quero para a minha vida. Em 2014, eu comecei a faculdade de Educação Física. Nos Estados Unidos você pode só tirar o Level 1 e dar aula. No Brasil, tem o Conselho Regional de Educação Física, que regulamenta o setor. Sem a faculdade, eu não poderia dar aula de crossfit. Então, resolvi estudar mais”, conta.

Os amadores

Thiago, Gigi e Tourinho não são casos isolados. Ainda assim, dá para praticar e competir, levando a vida (quase) normal de sempre. Gibrana Janete, 36 anos, sempre gostou de atividade física. Descobriu no crossfit um gostinho que só tinha nas corridas de rua: a ansiedade e animação de participar de uma competição como um atleta “de verdade” faria.

Assim como ela, centenas de pessoas no Brasil e milhares no mundo experimentam essa sensação. Ficou com vontade?​

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*Laura Nabuco jornalista e crosfiteira

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