sika7Aos oito anos ela rabiscou os primeiros traços que a levariam ao caminho para ser o que se é. Através das tintas descobriu o mundo que queria viver e seu desenho se transformou em um retrato daquilo que sentia, sua leitura do que a rodeava. Todos estes passos a encaminharam ao risco de se entregar à arte, e Simone Ishizuka, a Sika, pinta, desenha e também sente o seu desenho ao “brincar” com a cerâmica.

Mas, o que antes ficava limitado ao fundo de suas gavetas ganha luz e cores. Foi um processo para que a Arte da Sika pudesse ver o mundo e chegar até as pessoas. Com o talento de pintar aflorando, começou desde cedo a fazer aulas, e com isso, vieram as encomendas. E mesmo ainda criança, e sem saber que este caminho a levaria à liberdade, Sika se sentia limitada nas aulas de pintura, por ter que reproduzir padrões sem levar em conta sua própria criatividade.

artedasika“Tive uma responsabilidade muito grande quando criança por aceitar encomendas e não poder me expressar criativamente, então, acabei ‘brigando’ com os pincéis, só fui fazer as pazes agora no Movimento Rota quando pintei um painel.  Larguei a pintura aos 14 anos e fiquei sem desenhar até os 19, que foi quando comecei a ter aula de desenho, com mais técnica, sombras, grafite. Me sentia limitada quando criança, e a arte é livre”.

Esta dificuldade em se encaixar ao padrão fez com que Sika deixasse os desenhos como uma parte em segredo de sua vida, sendo que sempre esteve vez ou outra, em meio aos seus rabiscos. Em suas andanças pelo mundo, com a necessidade de estar em movimento, tendo vivido uns anos na Europa, em Londes, depois em Curitiba, e outros lugares, retorna a sua casa, de certa forma, acompanhada apenas da constante da arte.

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“Até 2015 me considerava uma artista que desenhava algo grosseiro, meio Tarsila de Amaral, com as mãos e pés grandes, aquilo de ser parecido, mas sem muitos detalhes, alguns como charge. Comecei a ver alguns artistas, o Nestor Junior, a Faye Halliday que gostam muito de detalhes e eu pirei nos traços e isso me inspirou”.

A resposta das pessoas foi rápida e sua arte tomou outra proporção. “Comecei a postar no face mais por diversão, por que fui limitada por muito tempo e agora estou livre para fazer o que eu quero, e por isso começou a dar certo, conquistei meu espaço com a minha arte, uma leitura minha do que está no meu Universo”.

Com a cerâmica, o contato é mais recente. Uma aula gratuita no SESC expandiu o seu conhecimento sobre si mesma. “Foi uma experiência fantástica porque é diferente, no papel você faz todos os detalhes, você desenha tudo, mas não sente, e eu nunca havia feito nada com cerâmica, você pega no seu desenho e o molda”.

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A proposta da aula era fazer personagens regionais, e sua escolha foi Maria Taquara, mulher de calças, estátua em Avenida de Cuiabá, uma lenda, que mexia com o imaginário dos soldados que deserdavam para correr atrás dela. “Nunca vi uma imagem dela, fui criando da minha cabeça todos os detalhes”. Sika deu vida a sua imaginação para materializar-se também para além do papel.

Foto: Pedro Ivo
Foto: Pedro Ivo

A vontade de fazer uma exposição é companheira constante e Sika aproveitou movimentos de ocupação da cidade para também mostrar o que a move. No lançamento do Cidadão Cultura, levou seus desenhos e os pendurou no varal. Fez as pazes com o pincel para pintar um painel durante o Movimento Rota e também ocupou espaço no Gran Bazar na praça da Mandioca.

E assim, do pincel ao lápis, da cerâmica às cores no papel, a arte da Sika é livre para ser o que ela quiser.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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