Por Caio Mattoso
Adoro música alta no carro. Mas tem dia que a música iria me fazer chorar. Tem dia que nem preciso de música pra chorar.
Recebi uma chamada.
– Boa tarde. Assim começou nossa viagem.
Uma senhora entrou no meu carro. Carregando sacola, mochila. Fomos conversando. Com certeza ela puxou o papo. Querido leitor@, você sabe que fico na minha quando dirijo. Essa filosofia do João também é a minha. Fui levá-la para buscar a netinha na escola. Fui levá-la na escola porque sua filha não poderia ir buscar sua neta. Fui levá-la pra buscar a netinha na escola porque a filha dessa senhora foi assassinada pelo próprio companheiro. Uma coisa é ler isso num jornal, outra coisa é alguém confessar pra você. Simplesmente se realmente quer saber minha opinião, meus filh@as valem minha liberdade de contradizer qualquer lei desse país.
Eu mataria para vingá-los. Mataria seu filh@ se esse assassino cruzasse meu destino. Pesado e sem perdão. A contradição estabelece facilmente seu lugar em nossas vidas. Se você matar meu filho assassino eu não te mataria. Assim se encerra a vingança para continuarmos.
Baratear o preço exige pensar lá na pontinha. Fincar a bandeira do preço mais barato tirando do bolso de quem trabalha pesado é o velho golpe e não significa empreendedorismo, a tradução disso é exploração travestida de capitalismo.
A pimenta no rabo de quem precisa trabalhar está queimando. E a justiça vem como um movimento do devir. Vai e volta. Demora e é incontrolável. Nada pode parar. Os poderosos seremos sempre nós. Esse poder não se tira, não se compra.
Entendo hoje que os textos políticos não contêm em si regras de comportamento e sim o debate de realidade diversa, carregando consigo intuir (reflexão pelo todo), ou seja jogar as ideias na roda sem desejar que seja a sua palavra a resposta ou a solução final para os nossos conflitos.
A lei do mais barato é aquela que garante que podemos ganhar fazendo o que mais gente faz também. Vivendo no mercado responsa, sem derrubar ninguém, mas sabendo do conhecimento pela vida, altos e baixos vão rolar. Qual será o nome disso?
Será capitalismo?
Como é a relação do Estado e Capitalismo?
Será que um, não vive sem o outro?
Essa é a vida que a gente leva?
Não é na filosofia que aprendemos sobre isso?
Não tem mais filosofia na escola?
Era pra gente estar debatendo isso, não é mesmo, Júlio.
– Caio, a gente já debate isso.
Caio Mattoso é poeta, compositor, músico, filósofo, ator e motorista de Uber nas horas vagas.