Enquanto estou aqui preparando minha fantasia para o carnaval penso na notícia que li na internet avisando que o fim está próximo. Lembra muito aqueles quadrinhos das hqs antigas quando aparecia em meio às pessoas na rua alguém carregando uma placa com os dizeres em letras garrafais: o fim está próximo. Ora, o fim está próximo de todos nós o tempo todo. O fim mora ao lado. Sim, podemos atravessar essa tênue linha divisória a qualquer momento. Enfim, o fim sempre esteve muito próximo.
É preciso desviar da morte como quando desviamos do atropelamento. É preciso decifrar o instante a seguir, tudo no mesmo tempo, é muito louco. Pra vc desviar da loucura tem que perceber o buraco de tatu antes, num instante raro e solitário, naquele instante vc deve parar e antes de atravessar a porta, analisar, ponderar, fazer as contas. O perigo é sair devendo além da conta e vais pagar por isso, mesmo que seja com seus infernos locais. As localizações se alternam, mas nunca deixam de existir. Cada hora incomoda num canto num organismo num lance de doer.
Muitas vezes podemos administrar, mas o perigo mora ao lado, a razão às vezes é submissa como a puta que orna a representação, como domada, como outra qualquer que atravessa nossos caminhos. É preciso conhecer as bordas, mas é um risco calculado, ou, que deve ser bem calculado, pois o abismo estará sempre ali com sua bocarra gulosa e letal.
Nossos sonhos são diamantes enquanto os pesadelos transformam a pureza desses mesmos diamantes em morte. Tudo está conjugado no jogo das possibilidades, tudo está contaminando as circunstâncias e podem se abrir em novos caminhos, no balanço do acaso, a poesia perde o viço no tempo em que vivemos, fica viscosa como pus diante da natureza também feia das coisas. Então, o belo, mora ao lado, do feio; a vida, da morte; o instinto, do extinto.
Descoladas de Nabiru, o planeta invisível escondido atrás de Plutão (será Netuno?), notícias fakes (serão?) lançam o estilingue como um pedregulho, um asteroide na direção do alvo-terra. Em fevereiro antes do carnaval, o apocalipse vai dançar. Que samba isso vai dar?
Isto não é fake: 15 cientistas, que já ganharam o prêmio Nobel por sua contribuição à ciência, adiantaram o relógio do apocalipse e estamos há dois minutos e meio do fim de tudo. Em Londres o Big Bang secular mira o infinito com suspiros de fastio.
O navio atravessa o Atlântico onde filhos são fecundados e lançados ao mar. Baleias devoradoras sobrevoam (sobrenadam?) as pobres carcaças que boiam na sopa infernal.
A vida escorre pelo esgoto de sua própria sujeira.
A morte sorrateira se move entre sombras.
Um assombro para a plateia ao perceber que o palhaço agora chora e faz chorar ajoelhado diante de seu relógio de brinquedo. O tic tac da crueldade como Cronos despedaçando seus filhos com mordidas caninas e pavorosas.
Os portões do inferno foram abertos e vai começar a dança que nos lança perfumes sob abrasadora música – cânticos malditos do coro dos infernos que queimam o ar a ecoarecoar.
Meu relógio de parede parou!
Stop, parou o carro, ou foi a vida?
Sorrio para o poeta Drummond nesses encontros do acaso, onde, uma coisa, leva a outra, uma vírgula separa as coisas, coloca, no, seu, devido, lugar.