Por Gilda Balbino*
Durante anos de militância política nutrimos a expectativa de que a superação do nosso atraso colonial, consolidaria a democracia e a cidadania em nosso país, superando graves problemas sociais como a fome, analfabetismo, desnutrição, mortalidade infantil dentre outros, atingindo a emancipação política com a correção das injustiças históricas.
Sob o comando neoliberal, atingimos um desempenho econômico com enormes lucros bancários e grandes atividades na mineração e energia. O sucesso do agronegócio passou a determinar políticas de ocupação e uso da terra agricultável, das nossas florestas e áreas de preservação ambiental para implantação de pastos, cultivo da soja, cana, celulose. Com isso, os latifúndios improdutivos deixaram de ser um problema para a histórica luta pela reforma agrária. O Estado, a burguesia local, as empresas transnacionais, adotaram um novo discurso da “vocação agrícola” e passaram a exportar, grandemente, os produtos primários.
Devemos reconhecer que essa engenharia da politica social agrada os gerentes do capital internacional extraindo dividendos eleitorais internos. É a lógica do capital. Essa estratégia social liberalista têm incidência na redução da pobreza, no acesso ao consumo, mas não produz impactos na histórica desigualdade social que prevalece no país.
Com a crise econômica que vivemos atualmente, são visíveis as contradições que habitam a relação atual do capital com o mundo do trabalho, mostrando a tragédia humana e ambiental que o atual padrão de acumulação e corrupção impõem ao Brasil.
Talvez nos falte dentro disso tudo a solidariedade que não se limita às liberdades individuais, nem à exclusão das mesmas mas que atravesse os países sem excluir sua soberania. Isso porque o mesmo Estado que garante o exercício dos Direitos Humanos contra seus abusos, falha no seu acesso porque é o mesmo que cerceia pela força, o contraditório na esfera pública. A semântica entre direitos fundamentais reconhecidos e direitos humanos do porvir, ganha uma nova perspectiva de concretude, diante dos impasses da manutenção da integridade e idoneidade das manifestações da liberdade de expressão que se valem de meios eletrônicos aptos a ultrapassar os limites geográficos, responsáveis pela difusão de informações e mobilização da população. Resta saber se isso é para o futuro ou para o tempo presente. A utopia surge na história da humanidade como um alerta crítico da realidade estabelecida, e o que aparentemente representa a história dos derrotados, como agora nesse processo eleitoral, é apenas a correção histórica daquilo que estamos construindo.
*Gilda Balbino, Bal. em Direito pela UFMT, especialista em Gerente de Cidades pela FAAP e Assessora Parlamentar
artigo lúcido, “Talvez nos falte dentro disso tudo a solidariedade que não se limita às liberdades individuais”, essa sua fala é extremamente ligada ao que penso sobre todo o processo atual da humanidade em geral, que é extremamente individualista e egocêntrica, despejando “saberes” meias bocas nas redes e dando um foda-se geral na questão política. parabéns pela clareza do texto.