No início do isolamento, os pardais do bar ao lado migraram para o meu quintal.
Comeram ração de gato e ficaram por aqui, ignorando o olhar atento das felinas, prontas a atacar.
Permaneceram por alguns dias e depois partiram em busca de outro lugar.
Pode ser que encontraram pelas periferias da cidade bares abertos para frequentar.
Pardais são aves urbanas, de hábitos viciosos, gostam da fumaça dos cigarros, dos vapores do álcool, do burburinho de multidões, do vozerio e das gargalhadas dos bêbados, da folia das ruas onde catam migalhas e farelos entre o cascalho, nas calçadas quentes e sujas do ir e vir das pessoas.
Seu habitat acabou.
As condições que sustentavam sua existência não existem mais.
As ruas se calaram, um grande e silencioso vazio tomou conta das tardes.
Hoje eu vi o sabiá cantar e um bando de garças brancas passou voando entre as nuvens no fulgor do sol.
Sinto como se vivesse num interminável domingo, que nunca acabará.