Yuri Kopcak
Estes dias fui ao mercado. Faziam doze dias que estava sem contato com ninguém. Ao chegar, fui esterelizando carrinho com meu álcool isopropílico “profissa”, metendo uma de sabichão. Havia uma fila de mais ou menos umas quinze pessoas com carrinhos num cortejo para dentro do mercado. Ficaram me notando. Achei que fosse por conta da minha barba transmissora de coronavírus em potencial. Contudo, ao chegar na porta de entrada, descobri a minha mancada. Tinha uma equipe do estabelecimento passando álcool gel nas mãos e carrinhos dos clientes.
O mercado estava meio vaziozão. E fui logo correndo pelas gôndolas ‘panhando” os produtos que precisava. Parecia que estava em Olimpipandemia. Não queria dar tempo ao vírus e fui tentando cravar minhas marcas a cada corrida por produtos.
Tenso, fui relaxar na terceira fileira. Baixou um certo alívio, pois as pessoas estavam guardando distância de mim. Ser estranho, neste caso, gera um certo consolo. Rs.
Na metade do mercado fui reconhecido por um ex-aluno. O rapaz trabalha no tal mercado e veio em meu encontro feliz da vida. Deve ter pensado: um rosto amigo. Tenho certeza de que o garoto, desprovido de radar, não notou a minha rejeição ao seu ato de “fodam-se” as distâncias e a segurança dos clientes. Fui logo andando pelo caminho como se ele fosse o Corona em pessoa. E o bendito ficou no meu encalço me contando uma infinidade de histórias sobre os projetos futuros dele. Me privei de longos comentários e só conseguia proferir alguns “aham”, “hummm”…: Fiquei com uma certa pena. Todos os projetos, sem exceção, não levavam em conta a longevidade da pandemia. Sua atitude, também não. Ele estava com uma máscara já toda detonada, de tantas vezes que tirava pra falar. Uma tristeza me abateu e queria sair logo daquele lugar. Me despedi do monólogo dele mentalmente umas 20 vezes, mas consegui proferir uns cinco adeus e até breve, “satisfação” em revê-lo…
Corri para o restante das compras naquele ritmo inicial de “a gincana do corona”. Já estava achando que estava contaminado. Pqp. Para piorar a minha situação um camarada espirrou nas minhas costas. Eu devo ter olhado pra ele com uma cara de pouquíssimos amigos, que o fez se afastar rapidamente de mim.
Danou-se, se não havia pegado o corona com o ex-aluno, agora já havia me ferrado.
Passei pelas verduras como quem está com toda a família na forca. Comprei três pacotes de peixe congelado. Uma sardinha espalmada, tilápia e pescada. Resolvi que minha dieta seria rica em carne branca. Comprei uma porção de coisas ainda e logo cheguei ao caixa. Para a minha surpresa, quem estava na caixa era uma senhorinha toda estampada e carimbada no grupo de risco. Fiquei estarrecido com o estabelecimento. Ela deveria ter sido dispensada neste período. Lamentável a decisão de certos comerciantes.
Sai com o carro “fofo” de compras. Na minha cabeça eu já estava contaminado… Foi complicado me tranquilizar…
Neste dia foi complicado dormir… Ainda o é!
Estou me acostumando a ficar só e me fazer Cia….
Mas nãoo é fácil!
Você me paga, corona, e vai ser com juros no estilo dos bancos socorridos pelo nosso biro liro!
Yuri Kopcak é sonoplasta, militante do audiovisual, professor universitário, assessor parlamentar e cidadão do mundo.