Por Luiz Renato de Souza Pinto*

Último dia do ano e lá vêm as promessas que são comuns a quase todos. Mais disso, menos daquilo, aquele outro, nunca mais. E assim vamos vivendo com a ilusão de que a virada do calendário nos fará diferentes daqui para a frente e para todo o sempre. Mas, como profetizava Renato Russo, “o pra sempre, sempre acaba!”.

Este ano de 2016 era para ter sido diferente, e graças a Deus, não foi. Ele aconteceu exatamente da maneira como fora pensado (não me perguntem por quem!). Foi ano de ficar mais perto dos filhos, do pai, irmã e sobrinho. Trazer meu cachorro para perto de Nicole que me escolheu para seu companheiro. Neste ano publiquei um livro em conjunto com Carlos Barros, amigo distante vinte anos do calendário: Duplo Sentido.

Poderia contar uma história repleta de números, mas abandonei a Engenharia (florestal) há trinta e três anos por conta deles ( o ano era ímpar). Entrei em um que era par. Casei-me por duas vezes (concubinatos), somei uma união estável (só no nome) e muitos namoricos de maior ou menor intensidade e continuo com uma capacidade enorme de me apaixonar pelas pessoas e pelas coisas; é bem verdade que as tenho evitado depois de uma última decepção.

apostas-desportivas_portugal_tvi_maisfutebol_aposta-xJá se foram três parágrafos e estou neste prólogo sem fim, cuja resultante separa-se dos significantes ordinários que se projetam letra a letra. Fiz meu ensino fundamental em duas escolas, uma pública, outra privada, mas na mesma cidade. O médio foi mais curioso, quatro escolas de três cidades e dois estados, mas todas públicas. O superior, depois de abandonar a dois cursos, concluído em 2001, com trinta e nove anos.

Nasci em ano par, meu irmão também, a irmã, ímpar. Meus pais eram de anos ímpares, ambos. Quanto aos filhos, ela, par, ele, ímpar. O sobrinho par, mas a mãe, como já disse, ímpar. Concluí o fundamental em ano par, o médio em ímpar, o superior em ímpar. O mestrado em ímpar, mas por conta de problemas de saúde com a família do orientador, defendi em ano ímpar. O doutorado, defesa em número par, a entrada em par também.

Hands pulling on rope during game of tug-of-warPassei em concurso público para a docência, em ano par, mas como ficou um ano na justiça, por problemas no edital, fui chamado no ímpar, mesmo ano em que comprei meu primeiro carro zero (nem par, nem ímpar), pago em sessenta meses (par), ou cinco anos (ímpar). Até hoje não tenho casa própria, mas comprei um terreno em cento e quarenta e quatro prestações (par), totalizando doze anos dessa dívida (par). Já paguei quarenta e três prestações (ímpar), faltando cento e uma (ímpar).

Já publiquei dois romances (par), mas o projeto é uma trilogia (ímpar) que pretendo concluir este ano que entra (ímpar), mas que deve vir a público no seguinte (par), já que os outros dois foram publicados em anos pares. Mas fiquem tranquilos, pois tenho outro projeto editorial para sair antes. Meu novo livro de poemas, o último foi (como ele será) publicado em ano ímpar.

csgo-apostasO que é certo mesmo, é que não sejam díspares todos esses numerários. E que o quantitativo de tudo não seja superior ao qualitativo. Publiquei exatamente dezessete crônicas neste site no ano passado (par), mas entrei o ano com vontade de produzir muitas outras. Aposto no gênero crônica para formação de leitores. O Duplo Sentido tem vinte e seis (par), treze minhas (ímpar) e treze (ímpar) do Carlos Barros. Sou capaz de apostar que as pessoas vão melhorar muito seu humor quando se derem conta de que há números mais importantes para se contar no ano que se inicia. Mas apostas não podem, nem devem ser gratuitas, não devem envolver dinheiro.

Sou capaz de afirmar que o melhor de mim ainda está por vir, somente pelo fato de querer ser alguém melhor a cada dia que passa. Sou capaz, sim, de apostar que o mundo pode melhorar se formos competentes para distribuir mais sorrisos, do que elogios. A postagem deste texto nada tem a ver com essas apostas, mas quero apenas reafirmar a capacidade que temos de melhorar nossas vidas e a de quem nos rodeia. A aposta está aberta, quem vai? Par ou ímpar? Façam suas apostas!

*Luiz Renato de Souza Pinto é poeta, escritor, professor, ator e botafoguense. 
Fissurado por números ele calcula cada centímetro percorrido nessa estrada da vida.

    
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Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

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