Por Luiz Renato de Souza Pinto
Conversava dia desses com o poeta Juliano Moreno acerca de poesia, viagens, aventuras literárias. Meu amigo recordava algumas de nossas parcerias, sobretudo nos anos 1990, e fomos recompondo um cenário repleto de nuances enquanto combinávamos um encontro para um café, ou coisa parecida. Juliano se referia ao projeto Palavra Aberta, que coordenou trazendo personagens importantes do mundo literário brasileiro como Ana Miranda, minha escritora preferida, José Castelo e João Gilberto Noll, por exemplo, para atividades em Cuiabá e Várzea Grande. Falava com saudades da revista Fagulha e suas últimas centelhas, reduzidas a cinzas na esperança de que, qual Fênix, renasça um dia.
Tive a oportunidade de ser publicado por Juliano em uma coletânea de contos organizada por ele e Mário Cezar Silva Leite: na margem esquerda do rio: contos de fim de século. Quando me pediram um conto e havia pouco tempo para a seleção, fui até meu baú de ossos e extraí de um romance inédito um texto que simulava uma partida de futebol entre o Surrealistas Futebol Clube e o Reacionários Futebol Club. Na verdade é uma brincadeira com as vanguardas europeias, em que o narrador simula uma partida de futebol enquanto vai narrando cenas obsessivas com atletas que levam o nome de figuras emblemáticas desses dois plantéis. Destaco um trecho para você que não conhece:
Gosto dessa publicação. Contém quase trinta contos de diversos autores. Marilza Ribeiro, Tereza Albues, Gabriel de Mattos, Eduardo Ferreira, Hilda Gomes Dutra Magalhães, Ivens Cuiabano Scaff, Lucinda Nogueira Persona, Ricardo Guilherme Dicke e os organizadores Juliano e Mário Cezar completam a antologia. O livro ainda traz João Gilberto Noll em participação especial e uma apresentação de José Castelo. Embora goste de quase todos os contos da publicação, sou obrigado a confessar que O furo do mamão e Gregória na Janela, de Tereza Albues mexeram muito comigo. Este último foi publicado depois em Buquê de Línguas, de Tereza, pela Carlini & Caniato sob o nome de Georgina na Janela. Trabalhinho em Cáceres, de Wander Antunes e Vovô morrerá hoje, de Lucinda também são geniais, mas me desculpem todos os amigos/escritores envolvidos no projeto, pois O inventor do martelo de orelha, de Antonio Sodré é qualquer nota acima de dez.
O encontro com Ana Miranda, por conta desse projeto, foi muito interessante. Àquela altura eu ainda não sabia que faria o doutorado a partir de sua obra; acompanho sua escrita desde o Boca do Inferno, de 1989. Sigo seus passos, quero dizer, sua escrita, como o fiz com Clarice (postumamente).
Em uma das vindas de Castelo até nós, lançou seu Inventário das Sombras, livro que reúne um conjunto de textos produzidos a partir de entrevistas com escritores como Clarice Lispector (A senhora do vazio), João Antonio (A arte de ser João), Caio Fernando Abreu (O poeta negro), Alain Robbe-Grillet (Viagem ao castelo), Hilda Hilst (A maldição de Potlatch), Manoel de Barros (Retrato perdido no pântano), além de Nelson Rodrigues, Bioy Casares, Raduan Nassar, Ana Cristina Cesar, José Saramago, Dalton Trevisan, José Cardoso Pires, João Rath e Arthur Bispo do Rosário.
Sei a data pelo autógrafo. Como presenteei ao escritor-crítico com um exemplar de meu primeiro romance, ele dedicou-me em 31/05/2001, há quinze anos, portanto, com as seguintes palavras: “Para o Teles, uma coleção de retratos, com o abraço de José Castelo”. Achei aquilo engraçado, pois como meu romance intitula-se Matrinchã do Teles Pires, ele pensou que eu fosse o Teles, motivo de um riso gostoso que faz com que me lembre de maneira curiosa desse fato literário. Ah, Castelo, você me fez rir muito nesse dia. Só mesmo o papo descontraído com Juliano para me fazer lembrar algo tão tosco, ou seria pitoresco?!
Luiz Renato de Souza Pinto, é escritor, professor, ator, poeta, pesquisador, viajante e botafoguense. (ele carrega a marca do Caximir)