Monólogo de Edilaine Duarte, com direção de Caio Ribeiro, estreia virtualmente nesta quarta-feira (12)
O desejo de transformar a própria realidade e se libertar de traumas familiares. Os aprendizados do fim de um relacionamento e o despertar para a espiritualidade. Essas são algumas chaves no amadurecimento de Edilaine-mulher, que a Edilaine-atriz vem transformando em peça de teatro junto a seu parceiro de trabalho e amigo de longa data Caio Augusto Ribeiro.
O processo será apresentado ao público em formato de “peçavídeo”, exibida nesta quarta e quinta-feira (12 e 13/5), às 20h (horário de Cuiabá), no Youtube do Coma A Fronteira. Na quinta (13), a transmissão será seguida de um bate-papo com a equipe de Vida Provisória.
‘Vida Provisória – In Process’ começou a ser concebida pelo coletivo Coma a Fronteira, em 2019, durante participação no projeto de residência artística Arvinte – Artes em Residência, realizado pelo CALM – Centro Audiovisual Luiz Marchetti. Foram três semanas de ensaios no Clube Feminino, espaço transformado em lar da atriz, pouco antes da covid-19 chegar à Cuiabá. Na nova etapa, atravessada por mais um pico da pandemia, o projeto foi contemplado pelo Edital MT Nascentes, da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT).
Com os recursos da Lei Aldir Blanc, Edilaine Duarte “se mudou” para a Casa Cuiabana, que abrigou os novos ensaios. O resultado foi filmado para o público na sala Anderson Flores do Cine Teatro Cuiabá e estreia virtualmente como garantia de segurança da equipe e do público na etapa de apresentações.
Para a construção do espetáculo, que tem dramaturgia e direção de Caio Ribeiro, Edilaine precisou mergulhar em um emaranhado de memórias para a pesquisa. “Vida Provisória é composta de relatos sobre a minha vida, desde a infância, passando pela adolescência, até a vida adulta. Lembranças que ativaram sentimentos que estavam ali guardados dentro de mim, e que eu nem sabia”, relata a atriz.
Por isso, a peçavídeo será lançada junto a um Diário de Lembranças, material digital que reúne poemas escritos pela atriz durante a quarentena e todo o processo de criação do monólogo. Textos da direção também contam sobre a construção e encenação da dramaturgia. “É um complemento da experiência, um extra. São registros, que não necessariamente precisam ser lidos para assistir a peça. É também um momento em que toda a equipe aparece”, explica o diretor Caio Ribeiro.
Edilaine explica que a ideia que envolve a poética do trabalho foi olhar para o passado como um processo de aceitação e cura. Assim, o enredo parte do que ela chama de consciência do presente. “O que eu quero viver hoje? O que eu quero ser hoje? E por que não viver o que eu quero, agora? De alguma forma, vou levando a minha vida assim. É como se eu sempre criasse e vivesse os meus personagens, em uma espécie de vida provisoria”, reflete a atriz.
Hibridismos
Edilaine Duarte, que é premiada no cinema pelo curta-metragem ‘A gente nasce só de mãe (2017)’, volta “aos palcos” – ainda que nas telas – pela primeira vez como protagonista de uma peça teatral. Em um único trabalho, a atriz canta, dança, declama poesias e ainda manipula formas animadas, explorando diversas técnicas de expressão cênica. Para isso, ela recebe preparação corporal de Elka Victorino e preparação vocal de Rô Leão.
O cenário é arte de Douglas Peron, membro fundador do coletivo Spectrolab, que utilizou o papelão como material principal da composição cenográfica de Vida Provisória. “O papelão é um material presente no cotidiano de qualquer um, para uns: apenas como embalagem ou suporte para produtos do dia-a-dia; para outros: a fonte de renda da família. Material simples, leve, versátil. Improvisado, substituível, reciclável”, destaca o artista. Toda a trilha sonora foi executada e composta exclusivamente para a peçavídeo pelo músico Augusto Krebs, que assina a direção musical.
‘Vida Provisória’ marca a estreia de Caio Augusto Ribeiro na direção de teatro e reafirma sua atuação no audiovisual. É o primeiro produto do Coma Fronteira, coletivo de artes híbridas, investigação e intervenção urbana, pensado enquanto artes cênicas. Por ironia do destino, a necessidade de tradução para o ambiente virtual, acabou reforçando os hibridismos já característicos do coletivo.
“O Coma a Fronteira nunca fez nada que não fosse híbrido. E o acaso, novamente, nos obriga a ser híbrido. Enquanto peça para ser apresentada nos palcos, presencialmente, a hibridez era brincar com teatro e música. Agora, como peça-vídeo, o trabalho ficou mais híbrido ainda. E é algo que a gente gosta muito, fazer com que as linguagens se encontrem”, reforça Caio.
‘Vida Provisória’ também pode ser considerada uma peça-irmã de ‘Coió’, trabalho que retrata a violência doméstica vivida pelas famílias de Douglas e Caio: “Eu já vinha de um processo de dramaturgia que investiga a vida e o trauma. Trabalhei muito fazendo produção e a assistência de direção de outros trabalhos, mas agora é a primeira vez que dirijo uma peça de fato. E essa tradução de formato também me deu a segurança que eu não tinha para assumir um trabalho como diretor”, relata Caio.
Construção afetiva
‘Vida Provisória – In Process’ também materializa uma década de amizade e parceria entre Edilaine Duarte e Caio Ribeiro, ainda dos tempos de escola no Colégio Liceu Cuiabano. “Tiramos até DRT juntos e cá estamos. Em todo esse tempo, trabalhamos sempre em conjunto de alguma forma. Somos amigos que se gostam e se conhecem. E essa peça só foi possível por essa trajetória”, destaca Caio.
A intimidade e o afeto envolvidos no processo de produção refletiu em um clima de bastidor e trabalho em equipe muito satisfatórios. “Por essa peça, eu me orgulho em dizer que trabalho com a dramaturgia que acredito, e com um processo de produção que acredito dentro das artes cênicas e do audiovisual”, complementa o diretor.
E foi justamente essa troca afetiva que deu segurança para Edilaine trazer à cena temas, para ela, muito pessoais. “Tem momentos em que não é muito confortável trabalhar sua própria vida. E o Caio foi super importante nesse processo. Não tinha outra pessoa para dirigir esse trabalho. Ele não viveu na minha infância, mas soube trazer para a peça tudo de uma forma muito afetuosa e sensível”, relata Edilaine.
Conforme Caio, toda a equipe, aliás, foi escolhida a dedo pela excelência e diversidade de “mundos”. Os bastidores, inclusive, se tornam um elemento cênico através da câmera-personagem. “Ela contracena com a Edilaine e vê toda a produção. Então a gente assume que é uma produção”, destaca.
Fazem ‘Vida Provisória’ mulheres, mulheres negras e pessoas LGBTs. A peça-vídeo também resulta do encontro de gerações, unindo invenções de novos talentos à experiência de veteranos. Além dos profissionais já citados, na construção de cenário está Lourival Junior com seu trabalho de iluminação. Responsável pelo audiovisual da peça, Juliana Segóvia e Ana Carolina de Mello assinam a captação e edição de imagens, respectivamente. Na comunicação, Lucas Lemos soma com estratégia digital e Maria Clara Cabral com assessoria de imprensa. A produção executiva é de Carolina Argenta.
Serviço
Vida Provisória – In Process
Quando: 12 e 13/05, às 20h (horário de Cuiabá)
Canal do Youtube do Coma a Fronteira: https://www.youtube.com/channel/UCoQOg9oGT_Wxm3DHhcWn77w
Acesso: Gratuito