Por Luiz Renato de Souza Pinto*

Durante muito tempo fui bastante cético quanto às leis de incentivo à cultura aqui em Mato Grosso. Vimos nas últimas décadas surgirem artistas oficiais deste ou daquele governo e movimentações bastante duvidosas nos seios oficiais do município e do estado. Acompanhei a criação de leis de incentivo em Curitiba (PR), Vitória (ES), além de ser pioneiro em Lei Sarney em Mato Grosso, como sócio do Saco Produções e Edições (ME), em 1986, um dos braços do núcleo Caximir.  Com Eduardo Ferreira, Amauri Lobo, Antonio Carlos Lima, Antonio Sodré, André Balbino, Capilé Charbel e Paulé, produzimos bastante coisa interessante nos anos de 1980.

Circulei por nove anos no estado do Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, entre 1988 e 1996. E viajei por 97 cidades de 17 estados do Brasil vendendo poemas de bar em bar, faculdade em faculdade. Volto agora, a partir de outubro com o personagem que me possibilitou essa diatribe toda, o garçom performático que, em breve, circulará por bares e cafés alternativos da nossa capital. Acredito que a poesia é, antes de mais nada, essência. O poema é a poesia materializada em forma de objeto. Há poemas feitos para serem lidos, outros musicados, alguns apenas ouvidos. Há que se ter sensibilidade para escolher o suporte adequado para o que se quer dizer, demonstrar.

Agraciado recentemente no segundo Prêmio Mato Grosso de Literatura, da Secretaria de Cultura do Estado, preparo o lançamento de Gênero, Número, Graal. Depois de 24 anos lanço um livro de poemas. O último foi o Cardápio Poético, em tiragem de 2000 exemplares que circulou pelo país. Algo em torno de 400 exemplares ficaram em Cuiabá e os demais correm por aí. Já consegui comprar dois pelo Estante Virtual, para que tenha o registro do acontecido.

Como contrapartida prevista no projeto do livro, ministrarei uma oficina na Escola Estadual Presidente Médici entre os meses de setembro e outubro do corrente ano, para 120 alunos e com algumas vagas também para professores da instituição. A presente oficina se propõe a criar e interpretar textos de origem poética. Para tanto a leitura, audição e visualização cênica dos textos são fundamentais.

Carlos Barros e Luiz Renato

Temos como objetivos DEMONSTRAR que a criação poética pode seguir por vários caminhos. A relação com a palavra deve ser de profunda alteridade para que o poema seja um suporte para novos conceitos e posturas diante dos sentimentos que antecedem a materialização do objeto. Também iremos EXPERIMENTAR nuances entre ritmos distintos a fim de se produzir verdades poéticas que se caracterizam pela subjetividade, um estar no mundo. O trabalho será dividido em três etapas distintas, a saber:

I – Conceituação poética. Breve histórico do gênero lírico e suas hibridizações. Autores e obras clássicos e contemporâneos. Diálogos entre as escolas tradicionais e a formação do cânone. Poemas feitos para serem lidos, ouvidos, vistos, sentidos, musicados. Durante o período áureo do paganismo, a cultura grega materializou em forma de poesia um universo de sensações e percepções humanas. A literatura passou a ser sinônimo de poesia e a teoria dos gêneros de Aristóteles atravessou a cultura ocidental implementando uma espécie de cânone apenas recentemente reformulado.

II – Teoria e prática na análise de poemas e letras de música. Nesta etapa procederemos à análise de alguns textos e seus possíveis enquadramentos estéticos. Ler é diferente de estudar. Analisar um texto pressupõe deter-se detalhadamente na estrutura e conteúdo. É importante compreender as intenções do autor e os efeitos estéticos obtidos via construção poética. Poesia é essência, não necessariamente forma. Há poemas que foram feitos para serem lidos, ouvidos, sentidos. Pretendemos socializar métodos de análise que facilitem a compreensão dos textos por parte dos leitores/ouvintes.

III – Criação de textos a partir de diversas motivações.  O trabalho com a palavra e com os sentidos é fundamental para que se preserve a ideia de poesia como equivalente à de essência. A confecção de um texto, transformando-o em um artefato, isto sim transforma a poesia em poema, a poesia materializada em forma de objeto. Para esta etapa precisaremos de material para escrita, papeis e lápis.

Como finalização da oficina apresentaremos um pocket show em que os experimentos poéticos serão levados a público fazendo uso das linguagens utilizadas ao longo do processo. Música, cenografia e adereços podem complementar a apresentação final, de acordo com a necessidade e utilização ao longo do processo.

Após o lançamento oficial dos dez livros premiados e consequente liberação (por força do Termo de Compromisso assinado), a presente oficina estará à disposição de outros estabelecimentos de ensino interessados, bem como para ser realizada em qualquer espaço público ou privado que se interesse por receber a proposta. Gênero, Número e Graal está sendo editado pela Carlini & Caniato e estará disponível para comercialização por R$ 30,00. Ao adquirir o exemplar o usuário ganhará um brinde surpresa. É esperar e ver! As inscrições para o Oficina podem ser feitas pelos componentes da comunidade da Escola Presidente Médici, junto à  Coordenação do Ensino Médio.

*Luiz Renato de Souza Pinto é professor, poeta, escritor e ator performático. 

 

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Ao completar vinte anos da publicação de meu primeiro romance, fecho a trilogia prometida com este volume. Penso que esse tempo foi uma graduação na arte de escrever narrativas mais espaçadas, a que se atribui o nome de romance. Matrinchã do Teles Pires (1998), Flor do Ingá (2014) e Chibiu (2018) fecham esse compromisso. Está em meus planos a escritura de um livro de ensaios em que me debruço sobre a obra de Ana Miranda, de Letícia Wierchowski e Tabajara Ruas; o foco neste trabalho é a produção literária e suas relações com a historiografia oficial. Isso vai levar algum tempo, ou seja, no mínimo uns três ou quatro anos. Vamos fechar então com 2022, antes disso seria improvável. Acabo de lançar Gênero, Número, Graal (poemas), contemplado no II Prêmio Mato Grosso de Literatura.

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