Que venham outros momentos como esse que rolou no Foto na #tchapa, o primeiro passo para uma longa jornada. O encontro foi de uma simplicidade encantadora, de guerrilha cultural, uma zona autônoma temporal, um temporal de energias se encontrando e gerando atividades, um sopro de novidades em movimento. Todos querendo um modo de vida em que compartilhar e somar são login e senha para um mundo diferente.
O fotógrafo Márcio Pimenta foi o convidado desse primeiro encontro via Skype, com um note, uma tv, um microfone, uma sala e pronto. Quase trinta pessoas se debruçaram nessa tarefa de Sisifo, subir ao topo para cair e subir novamente e cair… ad infinitum. Mudam as tecnologias e o ser humano permanece o mesmo.
Mas, vamos em frente, para trás agora, para seguir adiante e remontar os cacos de uma história mal fadada, mal engendrada, mal ajambrada. Tem que pular o alambrado e jogar o jogo no mesmo campo, correr pelas beiras para furar a retranca, no jargão futebolístico.
Uma ideia de Marianna Marimon e Lucas Ninno, realizada pela equipe do site Cidadão Cultura, (que vem se desenhando muito mais como um catalizador de diversos movimentos vivos e orgânicos que vem emergindo em Cuiabá e em outros lugares) provocando fotógrafos, jornalistas, artistas e filósofos, para um debate sobre o fotojornalismo, em tempos de mídias ninjas, livres, onde todos fotografam, registram, gravam som, imagem em movimento, onde todos vivem, literalmente, um pós big brother orweliano, já estamos bem a frente, tudo coligado, convergindo em multimídias móveis.
A partir da experiência do Márcio, que mostrou trabalhos seus, como a sequência sobre os haitianos migrando para o Brasil, um projeto mais amplo, um ensaio fotográfico documental que exige tempo, recursos, saúde, mobilidade, equipamentos, enfim, é um trabalho árduo. O Márcio me pareceu de uma sinceridade e dignidade singular. Absolutamente naturais nele, e uma coragem que só os mais ousados conseguem. Se livrar das amarras de sua zona de conforto e provocar novos movimentos de vida, política, jornalismo e arte, tudo numa pegada de entrega total para conseguir realizar seus trabalhos.
Márcio Pimenta ficou chocado com a experiência radical de fotografar os destroços de Mariana após a lama de dejetos químicos e industriais que lançou as pessoas num inferno. Desolado diante das fotos, ele confessa que foi muito mais forte rever as fotos, que estavam ali impregnadas de morte e abandono. Isso o chocou de tal maneira que passou a ver tudo de outro modo.
O encontro vai abrir uma série em sequência, com outros segmentos e temas, mesmo a fotografia novamente, que ao que já soube, tem gente articulando para que rolem outros encontros de fotografia Foto na #tchapa, todo mês e no futuro, quem sabe, a cada quinze dias. Em outros espaços, circulando pela cidade pelos quintais, salas de associações, clubes, espaços culturais, praças, circos, etc.
A idéia é essa, espalhar encontros e propiciar o surgimento de alternativas locais e globais para minimizar os desastrosos efeitos do capitalismo e os estados de marginalidade gerados, que, para nós, são os frutos vivos das novas possibilidades. Ingênuos ou não, é preciso amar.
Fico feliz demais com isso que está se mexendo nos escombros da vida. Algo que pulsa e anima para que novas atitudes surjam. Basta se mexer, não deixar de fazer, para as coisas acontecerem.