Cheguei ao Crato, no estado do Ceará, no dia 10 de janeiro deste ano. Vindo pela terceira ou quarta vez por aqui, desta vez vim para ministrar uma oficina de poesia pelo Coletivo Camaradas, no Hostel Kariri. A cidade é um caldeirão cultural, de fato. E pensar que essa metáfora cai melhor do que a referência ao sítio em que o beato José Lourenço fez morada e que hoje se encontra ao Deus dará, pelo menos no que diz respeito às políticas públicas de valorização de comunidades quilombolas e congêneres.
“Encontro precioso” é a tradução do Iorubá para Abayomi, e sintetiza bem a atitude das mães para com suas filhas. Tem sido precioso para mim o encontro com a cultura caririense. E isso me tem feito voltar ao lugar. Também fiz como ouvinte a Oficina de Cordel com Hamurábi Batista, artista de Juazeiro do Norte que vê na palavra a possibilidade de mudança de um estado para outro, como eu. Batista e filho e pai de cordelista, o que ajuda a manter a tradição e culto dessa iguaria literária, casamento perfeito da poesia com a arte da xilogravura, registrado na sextilha que se segue:
Para saber de onde vem
Ou mesmo quem a domina
Se veio logo de baixo
Ou se chegou lá de cima
Cordel e xilogravura
São mesmo uma obra prima
(BATISTA, 2017, P. 8).
Em Juazeiro do Norte assisti ao lançamento de Poemas para Maria, coletânea dedicada à memória da beata Maria de Araújo, símbolo da crença religiosa em torno dos milagres de Joaseiro, gênese da religiosidade popular que enfrentou a ortodoxia católica da belle époque sertaneja. A Cícero, o que é de Cícero, à Maria, o que é de seu merecimento, é o mote que busca revalorizar essa figura destronada de seu mérito histórico na história de Juazeiro do Norte. Destaco os dois tercetos de Soneto para Maria, poema que abre a publicação:
Preconceito, discórdia mal oculto,
transformaram mulher forte num vulto
mas história escrevestes, sangue bravo!
És Maria, és Beata, és Araújo.
Representas pro oleiro o “barro sujo”…
A história ergue o rei e não o escravo!
(POETA, 2018, p. 13).
O Ceará tem sido muito receptivo às minhas incursões. Lanço no Gesso meu Gênero, Número, Graal e já inicio a divulgação de Xibio, novo romance, em que São Sebastião, Padre Cícero, Frei Damião, Lampião, Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré me auxiliam a transformar em ficção um pouco da poesia sertaneja que registra de maneira marcante o imaginário de um coletivo, camaradas.
Uma mescla supra ideológica de saberes, de sabores, de uma busca incessante pela democratização do conhecimento. Vida longa para todo e qualquer coletivo que se imponha pela clareza das propostas e por uma mudança urgente na maneira de ser, de sentir, de se expressar em qualquer linguagem.
suas cronicas são deliciosas caro poeta que volte cheio delas, grato.