Por Rodrigo Brito*

TORTURE SQUAD – Far Beyond Existence (2017)

Far Beyond Existence – Oitavo álbum de músicas inéditas dos paulistanos do metal Torture Squad foi lançado em todo mundo pela gravadora britânica Secret Service Records.

Com o mesmo time de produção do EP Return of Evil (2016), Wagner Meirinho e Tiago Assolini, a banda entrou nos estúdios Loud Factory e Orra Meu, em São Paulo, entre os meses de abril e junho de 2017, para gravar o novo álbum Far Beyond Existence, que contém nove músicas, além de faixas bônus.

Banda e produtores optaram pela sonoridade mais pesada e limpa possível. Essa escolha, somada à exigência dos produtores, à qualidade dos estúdios e instrumentos e à precisa execução dos músicos na gravação, pode ser sentida, de forma clara, na agressividade, no peso e na musicalidade do álbum.

Far Beyond Existence conta com muitas  participações especiais, como as de Dave Ingram (Haill of Bullets, ex-Benediction, Bolt Thrower), em Hate; Edu Lane (Nervochaos), na narração em Cursed by Disease; Luiz Louzada (Vulcano, Chemichal Desaster), em You Must Proclaim; Alex Camargo (Krisiun), na versão de Just Got Paid, dos texanos do ZZ Top; Marcello Schevano (Carro Bomba, Golpe de Estado, Casa das Máquinas), tocando Hammond na inédita Torture in Progress, e Fernanda Lira (Nervosa), na versão de Divine Step, da banda suíça Coroner.

Nas letras, a banda manteve a tradição de abordar diferentes tópicos, como as questões da vida que estão além da compreensão humana (Far Beyond Existence), passando por inspiradoras mensagens de atitude (Steady Hands), palavras ¨amorosas¨ para os políticos brasileiros (Don´t Cross my Path), até filosofias de vida do Bruce Lee (Hero for the Ages).

A capa, desenvolvida exclusivamente para o disco, foi feita por Rafael Tavares e contém detalhes significativos que remetem ao tema do trabalho. A imagem do crânio representa os humanos; a serpente, os animais; o céu e as rochas, o universo; e o olho do réptil e do crânio simbolizam portais para mundos que estão muito além do nosso conhecimento. “More questions than answers”. Como diz uma parte a faixa título.

A banda segue agora na extensa ‘A Far Beyond Existence Brasil Tour’, turnê por todo o Brasil que tem o suporte das bandas parceiras Hatefulmurder, Reckoning Hour e Warcursed e passa pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Os shows se encerram no dia 17 de setembro após aproximadamente 25 datas. Todas estão no Facebook oficial do grupo, confira: https://www.facebook.com/torturesquad”

Rodrigo Brito: Ano passado, nós de Mato Grosso tivemos a oportunidade de prestigiar ao show da turnê Return of Evil e agora novamente seremos presenteados com a Far Beyond Existence tour. É uma alegria para todos nós vermos o Metal como um movimento vivo em diferentes cidades ou regiões do Brasil. A respeito disso, gostaria de conhecer as opiniões da banda sobre o show realizado em 2016 em Rondonópolis.

AMÍLCAR CRISTÓFARO: Com certeza me lembro do show em Rondonopolis. Foi a primeira vez que passamos em Mato Grosso, foi um show em um sábado e é sempre especial shows num sábado. Sempre que passamos pela primeira vez em um lugar, os fãs da banda vêm sempre com muita energia. É sempre muito prazeroso passarmos pela primeira vez nos lugares, por essa troca de energia com os fãs que nunca viram a banda ao vivo é inesquecível, em Rondonópolis não foi diferente. Por isso eu considero a Returno of Evil um divisor de águas para a banda. Dessa vez passaremos em Cuiabá, que, se não me engano, também nunca passamos, e a expectativa é grande também.

Rodrigo Brito: Mayara, em várias entrevistas, a banda é questionada sobre as justificativas da escolha de uma mulher no vocal e você é indagada sobre as dificuldades de participar de uma banda. Amílcar Christófaro não é questionado sobre ser homem e seguir a carreira artística, porém você é sempre lembrada sobre assuntos que envolvem dificuldades profissionais, como se fosse um crime uma mulher ocupar uma posição que desafia o que é pré-concebida da figura feminina. Gostaria que você comentasse sobre o protagonismo feminino no Metal.

MAY PUERTAS: Não acho que a representatividade feminina no metal seja tratada como algo criminoso, mas sim curioso. Por mais que as mulheres estejam presentes na música pesada desde os primórdios, rola uma curiosidade natural por grande parte do público ser formada por homens, e consequentemente a grande maioria de pessoas envolvidas na mídia Heavy Metal também. Existe uma falta de tato ao abordar uma mulher, sobre suas dificuldades ou desafios… porque homens e mulheres são diferentes, certo? Isso seria mais fácil se nessas horas as revistas e sites recorressem as mulheres envolvidas no meio. Eu poderia citar várias envolvidas com jornalismo, produção, divulgação, etc.  Muitas vezes não há tanto interesse de ir mais a fundo nesse mundo das diferenças no dia a dia mesmo, então na hora de entrevistar uma mulher as perguntas acabam caindo na mesmisse.

Me deparei recentemente com uma matéria “especial” sobre mulheres no heavy metal em uma revista muito conhecida, e qual a minha surpresa que as páginas dessa edição eram todas cor de rosa com desenhos de flores. Veja bem, estamos falando se mulheres do METAL PESADO, em páginas cor de rosa com flores???? (risos). Mas eu vejo como positivo essa abertura maior que estes grandes meios de comunicação estão dando as mulheres, e é este o caminho pra que a mulher deixe de ser um tabu e passe a ser um elemento comum no meio, temos muito a dizer e contribuir com o Heavy Metal

Rodrigo Brito: Percebo que as dez poesias são direcionadas às angústias do sujeito na contemporaneidade e que o novo trabalho nos brinda com questões sobre a existência. Em alguns momentos, por exemplo, temos um eu-lírico amoroso (“Feel the breeze/ Breathe the air/ Look around/ Peace of mind”) e em outra canção, uma voz poética desencantada com o cotidiano (“No chance for redemption/ There is no space for failure/ You don’t get a second chance”). Poderia comentar sobre as imagens poéticas do novo álbum?

AMÍLCAR CRISTÓFARO: O que gostaríamos de passar com o conteúdo lírico do disco está no próprio título, “For Beyond Existence”, Muito Além da Existência. Quisermos dizer que o ser humano deveria se colocar no lugar dele perante o planeta sendo menos egocêntrico. Vemos extremistas religiosos matando inocentes por não acreditarem nas mesmas crenças, desrespeitando outras vidas, o valor do próximo. O disco foi feito com essa característica, de passar para o ser humano o quanto ele tem que olhar ao redor e ver que ele é uma parte de um todo e não O todo, ao contrário do que muitos pensam sendo mais importantes do que são. Essa letra que você citou primeiro é minha, da faixa título, e a outra letra é da Mayara, de uma referência do filme Exterminador do Futuro, mas todas buscam a mesma referência, em querer mostrar ao ser humano que ele é uma parte.

Rodrigo Brito: Parabéns, Torture Squad por lançar Far Beyond Existence. Vocês são sempre bem-vindos em Mato Grosso. Para encerrar, os versos abaixo trazem uma mensagem muito bonita presente no novo trabalho da banda:

“[…] maybe you’ll become a

myth, but there’s a price do pay

Be free, confront yourself

Courage to break all the bricks”

AMÍLCAR CRISTÓFARO: Fico muito feliz de prestarem atenção nas letras, e essa letra é de autoria minha e exatamente essa parte, “talvez você se torne um mito, mas há um preço há se pagar, seja livre, confronte você mesmo, coragem para quebrar todos os tijolos do muro”, esses tijolos eu fiz uma referência ao muro do Roger Waters, desse muro grande que a vida da pra gente nas bifurcações. As vezes a pessoa vive a vida inteira querendo ir para um lado mas falta alguma coragem para assumir alguns riscos e pagar o preço pela escolha, mas se é isso que você deseja, deve ir com a cara e com a coragem. Fico feliz que tenham pegado essa mensagem que a gente quis passar. Agradeço muito a entrevista, foi um prazer ter feito parte disso!

Facebook da banda: clique AQUI

*Rodrigo Brito é Mestre em Estudos de Linguagem, autor de Solstício ao Luar (2013) 
e VISÕES (2015). www.twitter.com/rodrigoffbrito

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