Essas palavras que escrevo são meu ganha pão.

Bem, não exatamente essas.

Palavras outras, para outros, com sentidos diversos,

que não me pertencem.

Escrevo, é só o que sei fazer.

Verso.

Essas palavras que escrevo pagam o computador que uso agora,

As roupas que me vestem,

A comida que eu como,

O aluguel do apartamento onde estou.

São as palavras que me sustentam.

Em um mundo capitalista, o valor da minha escrita

É o valor do meu holerite.

Mas essas palavras que coloco no mundo,

Não me pertencem

Não são

Verdadeiramente

Minhas

São como reproduções, cópias, recortes, fragmentos

Não estão em mim, não as sinto pulsar debaixo da minha pele, nas minhas veias, no meu sangue.

Essas palavras que escrevo, são só palavras.

São só marcas de tinta no papel.

Desprovidas de essência, reproduzidas como se saíssem de uma máquina, embaladas, prontas para o uso, para o consumo.

As palavras que vivem em mim

Seguem no silêncio do meu vazio.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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