em mim vive tudo aquilo que você diz esquecer,

e enquanto você apaga meus rastros

como para encobrir um crime,

eu voo,

em direção ao que sonhei só,

eu vou,

e neste tempo esgarçado como elástico

eu me atiro para o futuro,

para reviver tudo o que mora no ontem,

 

ate chegar aqui

belchior cantou nos meus ouvidos,

o passado é uma roupa que não nos serve mais,

e eu não quero insistir nessa invenção que projetei de você,

chega dessas fantasias solúveis,

meu café é amargo,

como a vida,

com essa realidade crua,

que passo na hora com água fervida

e pó escuro para acordar meus sentidos,

até nesse pedaço de memoria você está

 

a xícara quente,

fumegando,

a mão estendida,

te olho debaixo,

e sinto você em todos os meus poros,

mas esse texto é só mais um no meu bloco de notas

 

enquanto tento voltar para a sua cama,

um dia claro,

a luz iluminando nossos corpos nus,

estirados entre seus lençóis,

acordo e te toco,

você me olha e a gente se devora,

 

quando tento levantar,

mais um avião treme a janela do seu quarto,

volto para o agora,

vou voar no pássaro de ferro.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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