em mim vive tudo aquilo que você diz esquecer,
e enquanto você apaga meus rastros
como para encobrir um crime,
eu voo,
em direção ao que sonhei só,
eu vou,
e neste tempo esgarçado como elástico
eu me atiro para o futuro,
para reviver tudo o que mora no ontem,
ate chegar aqui
belchior cantou nos meus ouvidos,
o passado é uma roupa que não nos serve mais,
e eu não quero insistir nessa invenção que projetei de você,
chega dessas fantasias solúveis,
meu café é amargo,
como a vida,
com essa realidade crua,
que passo na hora com água fervida
e pó escuro para acordar meus sentidos,
até nesse pedaço de memoria você está
a xícara quente,
fumegando,
a mão estendida,
te olho debaixo,
e sinto você em todos os meus poros,
mas esse texto é só mais um no meu bloco de notas
enquanto tento voltar para a sua cama,
um dia claro,
a luz iluminando nossos corpos nus,
estirados entre seus lençóis,
acordo e te toco,
você me olha e a gente se devora,
quando tento levantar,
mais um avião treme a janela do seu quarto,
volto para o agora,
vou voar no pássaro de ferro.