Por Matheus Salgado*
E quem sabe onde será o lugar adequado para inspirar–se. Particularmente, escrevo, ou melhor, tenho as melhores ideias – que rabisco em algumas folhas e, sem o menor senso do ridículo, apresento aos amigos – em ambientes de espera, como no consultório médico, por exemplo.
Não sei se o ambiente é propício, mas o silêncio promovido pelo ventilador ou televisão cria uma atmosfera reflexiva e criativa, que quando convertidas em inspiração, faz–me pegar uma grafite e, irresponsavelmente, colocá-la em contato com um papel.
Goethe, grande escritor e pensador alemão, disse uma vez que o homem deseja tantas coisas, e, no entanto precisa de tão pouco. Quando em uma sala de espera, discordo e ainda me ofendo. Desejo, agora, ser atendido e preciso do mesmo. Há, de fato, essa confusão entre querer e precisar, mas a física já nos provou que tudo é relativo e, portanto, depende da perspectiva, e a minha quer por precisar.
Na televisão, programas vespertinos passam ignorando a minha pressa e agonia, fazendo–me esperar sem sentir ou divertindo–me (afinal todos os brasileiros, quando esperam, adoram ver fofocas de desconhecidos ou filmes e novelas velhas). Alterna–se quando um estudado engravatado diz que estamos evoluindo e que tudo (absolutamente tudo) esta melhorando em nossa economia, saúde e etc.. Sorrio, olho para o lado, num movimento involuntário de negação, e volto o foco ao meu papel.
Como cada um tem sua perspectiva, sigo aproveitando–me da inspiração, olhando a velha televisão e ouvindo o mudo ventilador, esperando a minha vez no meu contexto melhorado.
*Matheus Salgado, 29, professor de gramática, baixista, curioso, leitor, composto por música e linguística.