Não gosto de prefácios em livros. Não escrevo nos meus, nem para outros. Prefiro crer que o leitor deva formar sua opinião antes de ser conduzido por alguém. Mas leio livros prefaciados; trata-se apenas de uma distinção, a busca de singularidade, apenas isso, nunca um juízo de valor. Fechei o mês de agosto com o lançamento de “Gênero, Número, Graal” e “Xibio” em São Paulo, na Patuscada, Livraria & Bar, por indicação de Aline Bei, onde Santiago Santos, autor de “Algazarra”, é figurinha fácil. Caio Ribeiro também lançou livro por lá.
Em 31 de agosto, foi a vez do “Manifesto da Manifesta” de Caio Ribeiro. Seu livro bastante conceitual contou com o brilho de Alice Ruiz e Alzira Espíndola no comando da apresentação, verdadeira benção para o poeta rondonopolitano que adotou Cuiabá como sua morada.
Como único homem da turma pude observar mais de perto o olhar de profissionais do setor, que atuam com moda e cosméticos, que militam em um território que agrega valor e se expande para todas as classes sociais. Foi uma dose de voyeurismo, janela indiscreta para além do que se vê nas redes sociais, grandes corporações, ou mesmo na 25 de março.
O jantar de despedida foi no “Sujinho”, não o tradicional, aquele da Consolação, esquina com a Maceió, no que era chamado nos anos de 1970 de “boca do luxo”, e sim em uma filial de vinte e poucos anos (o outro tem mais de 50), na esquina da Ipiranga com a Rio Branco, próximo à “boca do lixo”. Ouvia muito falar desse bar por volta de 1981 quando, ao frequentar a casa do velho amigo Cacá de Souza, o Vila, não se cansava de propagandear. Soube dele há algum tempo. Partiu, não está mais entre nós. Lembro sempre de sua figura quando ouço o nome da Escola de Samba “Nenê da Vila Matilde”, bairro em que morava.
Entre a documentação que registra atividades de Aldenora, deparei-me com um contrato para a realização de um filme sobre uma de suas obras, junto ao cineasta José Mojica Marins, vulgo Zé do Caixão. Mojica foi um dos criadores da boca do lixo, onde, se não nasceu, pelo menos viveu a primeira infância o cinema independente no Brasil.
Antes de voltar para casa fomos visitar a exposição do fotógrafo Bob Wolfenson, no Espaço Cultural Porto Seguro, em meio ao que restou da Cracolândia, espaço de degeneração da espécie humana: só vendo!
Não gosto de prefácios, já disse. As orelhas me trazem um apreço especial, não falam, mas dão bons conselhos. Gosto da leveza da folha de rosto. É como uma preparação para o objeto. Parece repetir algumas informações da capa, mas na verdade esconde por trás dessa transparência outra face do livro, do texto; aquela que permanece oculta quando você pensa estar já dento da obra.