É bonito ver a capacidade de mobilização de artistas e trabalhadores da cultura se solidarizando com um companheiro de trabalho. Um músico, que sofreu um acidente grave e que precisa passar por uma série de cirurgias para se recompor. Mas é triste constatar a condição do artista brasileiro refém dos infortúnios como a maioria esmagadora do povo brasileiro. Sem plano de saúde e sem pai nem mãe na pública, sem salário, sem plano de previdência específico, sem renda fixa, dependente de cachês, na maioria das vezes, aviltantes, enfim, uma vergonha mesmo. E estou falando de um músico do primeiro time, muito reconhecido, qualificado, dedicado, estudioso, sério e bastante carinhoso no trato com as pessoas e com a vida. Sandro Souza é o nome dele. Muito conhecido em Cuiabá, Brasília e outras cidades, já tocou bateria e percussão com muita gente boa nesse mundão.
Conheci Sandro Souza lá pelos idos anos de 1990 em Cuiabá. Ele e o irmão Drailler Souza, guitarrista roqueiro inveterado, ainda adolescentes caíram nas graças de Cuiabá. Aqui fincaram suas habilidades musicais, se desenvolveram e mostraram ao mundo para o que vieram. O Sandro sempre teve uma pegada virtuosística. Tocou jazz, samba, mpb, choro, rock, pop, erudito, tocou de tudo e mais um pouco. Toca muito o cara. Mas vida de músico é coisa esquisita. Entre os projetos e os sonhos as curvas movem nossos corpos para outros lugares. Poucos conseguem uma carreira realmente regular e sustentável. A maioria fica dependendo de um mercado bem estreito e limitador. Como são mal pagos os músicos e como os desrespeitam! A dependência dos movimentos da noite, de casas noturnas, como bares, boates e alguns parcos shows geram um sistema de escravidão e péssimas condições de vida e trabalho. Os trabalhos autorais quase nunca vingam. Os sonhos vão se desfazendo na medida em que se avança na estrada.
Sandro começou com uma galera de peso aqui, foi o fundador da Banda “Abagaba”, quarteto fusion que impulsionou a música instrumental na capital cuiabana, ao lado de Ebinho Cardoso, que hoje mora nos EUA, e Danilo Bareiro que vive tocando por aí e é um produtor musical bastante requisitado. Tocavam uma música sofisticada, misturavam gêneros e ritmos, faziam um jazz fusion com pop, rock, funk e mais uma boa dose de improvisos. Sandro Souza é considerado um dos grandes bateristas e percussionistas de Mato Grosso, Centro-oeste e até do Brasil.
Entre suas aventuras musicais instrumentais dividiu palco com Nelson Faria, José Namen, Ademir Junior, André Vasconcellos, David Feldman, Arthur Maia, Glauton Campello, Marcio Montarroyos, Marcelo Maia, Eduardo e Roberto Talfic, Chico Sá, Ebinho Cardoso, Danilo Bareiro, Fidel Fiori, Samuel Smith, Sidney Duarte e Phellippe Sabo. Além de muitos outros artistas que acompanhou em vários projetos desenvolvidos em sua carreira já de longo tempo.
A união dos amigos para ajudar o Sandrão será no dia 8 de abril, aniversário de Cuiabá,no Clube da Esquina Bar, com participação de vários artistas, entre eles as cantoras Ana Rafaela, Wellington Berê e Lorena Ly. Vai rolar arte grafite, performances e outras atividades. Arte e solidariedade. Dar a mão a um companheiro é uma forma de mostrarmos que juntos podemos criar nossos próprios sistemas de proteção e colaboração mútua. Não isentando a responsabilidade do estado e dos diversos agentes públicos, ao contrário, precisamos lutar por dias melhores.
Independente disso vamos lá. #ForçaSandrão. Vamos nessa! Vamos dar as mãos em uma corrente de solidariedade e arte!