Num rápido lance de memória vem a recordação inevitável dos tempos de infância quando brincava com as mãos criando sombras nas paredes tentando imitar os mais diversos bichos. Coelhos, gatos, pássaros e outras tentativas alimentavam a imaginação e inventávamos histórias criando narrativas mirabolantes e principalmente de assombro. Era uma aventura carregada de magia. O exercício criativo é parte inerente de nossa infância. Mas, tem gente que leva isso muito a sério e desenvolve a capacidade de manusear objetos e recortes projetando sombras de uma forma, ou linguagem, que remete ao cinema, à nossa capacidade de criar ilusionismo. E dessa relação extrair arte, narrativas envolventes, contar histórias.
Numa rápida pesquisa pode-se ver que o teatro de sombras é uma arte muita antiga. Sua origem vem desde o período da Pré-História onde os homens já se sentiam atraídos com suas sombras movendo-se nas paredes das cavernas, e reza a lenda que algumas mães na época teriam desenvolvido o teatro de dedos, projetando sombras diversas com as mãos, para distrair seus filhos. É originário da China surgindo por volta de 5.000 antes de Cristo. Esta arte consiste em uma projeção, sobre paredes ou telas de linho, de figuras humanas, animais ou objetos.
O Grupo Penumbra de teatro de sombras é o único de Mato Grosso nessa categoria e vem cada vez mais cativando os amantes dessa forma de arte. Seu último feito, grandioso por sinal, foi ter participado do Festival Internacional de Teatro de Sombras em São Paulo, em sua primeira edição online. Uma das agitadoras e criadoras do grupo é a Juliana Graziela. Ela é atriz, diretora, bonequeira, performer, sombrista, contadora de história e produtora cultural. Ao lado de seus parceiros de grupo, Jair Costa Souza Júnior e Julio Cesar Rocha de Oliveira, fez bonito na apresentação do espetáculo A Vila de Pantolux. O Festival teve a participação de grupos importantes como o espanhol Teatres de la llum, da Cia Pavio de Abajour de São Paulo, da Companhia Karagozwk do Paraná, de Habib & Valeria de Pernambuco, da Cia Quase Cinema de São Paulo e de Liz Moura também de São Paulo.
Como foi para o grupo ser convidado para apresentar no Festival Internacional de Teatro de Sombras (FIS)?
O bom das apresentações online é que você ainda pode assistir depois (disponível nesse link aqui). O Penumbra apresentou A Vila de PantoLux, concebido pelo próprio grupo que utilizou técnica mista com recortes sombra e o corpo dos atores. Um espetáculo singelo na sua forma mas que emite um grito de protesto de toda uma comunidade e a forma como as pessoas são tratadas e deslocadas de seu lugar-território sem direito de resistir. No caso para a construção de uma usina hidrelétrica na região do Manso, em Mato Grosso. Ali existia uma vida com suas histórias, afetos e trabalho, basicamente com agricultura familiar. A ação se desenrola mostrando a vida pacata dos habitantes da Vila. A vida seguindo seu fluxo natural, crianças brincando, os pais trabalhando na terra, as famílias vivendo tranquilamente quando são surpreendidas com a obra gigantesca que em nome do progresso e do bem coletivo, são desabrigadas à revelia. Uma violência que se repete por inúmeras situações sob o rolo compressor do desenvolvimento econômico.
É muito bom poder ver como o teatro mato-grossense vem se erguendo e se afirmando como importante polo de desenvolvimento cultural. Vários grupos atuando, escola de teatro, novos dramaturgos, atores e diretores em franca produção, uma forma de arte que promete muito, a exemplo do Grupo Penumbra que sai das sombras e mostra a cara com muito talento e competência.