gostava dos números ímpares
não por ser supersticioso
ou algo do tipo
só que achava-os
mais
atraentes
bonitos
imperiosos
parecidos com a sorte

e por isso jogava
toda quinta
na quina
esperando que ela viesse
ao seu encontro
trazendo lhe os louros
com os quais
sempre sonhou

dava prazo pra teimosa
mas ela parecia
nem dar bola
batia o pé e insistia
pela sua validade
afinal
chega uma hora que
a esperança cessa

mas a sorte sabia
que por mais que falasse
não teria coragem
de parar de acreditar
ou apostar

não era por burrice
ou vaidade
era apenas desejo.

porque se considerar
sortudo em achar
uma moeda no chão
se poderia ganhar
milhões.

só precisava acertar o ponto
ou melhor cinco pontos.

mas eles nunca vinham
vinham dois
três ou quatro
mas cinco, não.

combinava os números
fazia joguetes
contas
divisões
multiplicações
frações
qualquer conjunto serviria.

parecia que se repetiam
os jogos nao eram os mesmos
mas eram sempre iguais

continuaria arriscando
os poucos trocados
que trazia no bolso
na esperança de encontrar
uma fortuna qualquer
no fim do caminho

esperava as horas passarem
para chegar a tal da quinta
e então com um beijo deixar
a aposta seguir seu trilho
quem sabe amanhã
nao estarei rico?

o resultado demorava
oprimia o peito do jogador
toda a esperança da semana
se dissipava com os pares.

se via um dois ou seis
chorava desesperado
praguejava contra a vida
e atormentava mais
a tal da sorte

apelou pra pé de coelho
e trevo de três folhas
não acreditava nos quatro

apelou até
pra folha de arruda
guardada na carteira
com seu nome estampado
e a promessa do dinheiro

mas por mais que tentasse
ela não vinha ao seu encontro

se sentia tão frustrado
inutilizado
pelos números infindáveis

nem percebia que
o que tanto pedia
caminhava ao seu lado
todos os dias
o encaminhando
para aquilo
que nem sabia
que queria

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

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