Por Antonio Torres Montenegro*
Nos anos finais em que atuei como professor das antigas séries de 5ª a 8ª séries e do 1º ao 3º colegial fui convencido por meio de leituras e debates que mais importante do que transmitir conteúdos era possibilitar as condições para a(o) aluna(o) por seus próprios meios apreendesse o conhecimento. E para alcançar esse estágio o desenvolvimento da capacidade de leitura era fundamental. Novos estudos e reflexões me mostraram que ler era primeiramente recordar as palavras. Tanto que ao se ler um texto em voz alta, quando surge uma palavra desconhecida, interrompemos para soletra-la. Posteriormente, descobri que a ‘tradicional’ leitura em voz alta era fundamental para esse exercício contínuo de aprender a ler.
Mas o domínio da leitura não era apenas um fator de empoderamento para que o(a) aluno(a) se apropriasse por seus próprios meios do conhecimento. Sem o domínio da leitura, ou seja, sem conhecer o significado das palavras que um texto apresenta, não é possível apreender a ideia, o pensamento nele contido. Logo, me perguntava como exercitar na(o) aluna (o) a capacidade de ler, de forma a operar a passagem das palavras a ideia ou pensamento contido no texto? O primeiro passo foi mostrar que não havia nada escondido no texto, nada a ser interpretado, porque todo autor opera com palavras para construir ideias e elas estão sempre expostas de maneira clara a quem tem os meios para apreende-las, ou seja domina o significado das palavras.
Ao mesmo tempo, ler um texto e em seguida apresentar a(s) ideia(s), o(s) pensamentos contidos no mesmo, não é algo que ocorre de forma automática; pelo contrário exige exercício. Sobretudo, porque não lemos com os olhos. Ao lermos e recordarmos as palavras trazemos juntos nossos pensamentos, ideias – preconceitos – o que muitas vezes dificulta sermos capazes de dizermos objetivamente a ideia do autor, o que afirma o texto. Sobretudo, quando este contraria nossas ideias.
Foi então que diante do novo desafio, – de como desenvolver no(a) aluno(a) a capacidade de apreender de maneira objetiva a(s) ideia(s) do texto -, alguns amigos desenhistas me ensinaram que o desenho poderia expressar ideias com objetividade. E assim, o estudo das ideias dos textos de história foram transformados em desenhos. Desenhos simples, alguns garranchos, porém carregado de ideias do texto lido. Hoje me indago o que foi mais significativo para esses alunos(as): aprenderam em minha aulas, a história exigida no programa ou uma metodologia de estudo?
Prof. Dr. Antonio Torres Montenegro. Professor do Departamento de História da UFPE. Publicado no JC em 25/01/2018