por fauno guazina*
“Actioni contrariam semper et aequalem esse reactionem” Newton
Todo o mundo está preso ao seu multiverso de leis e estigmas, somos resultados de nossas escolhas, a isso já dizia que cada um tem o que merece, mas tal alegação não traz a paz de se saber, você sabe quem é?
Desde poema em linha reta até as prosas mais tortuosas da paixão segundo G. H. eu jamais consegui ter certeza se é possível responder a este dilema. Quem sou eu?
Eu nunca fui amanhã, planejo (barra ajo) hoje e me analiso no que fui ontem. Meus ontens causam em mim vontades de ser outros, vergonha de ter sido tantas vezes eu mesmo, resignado em ter sido algumas vezes eles, e o orgulho de jamais ter sido como alguns. Somos sempre o outro de alguém.
Neste paradigma que me lasco, neste ser/estar sempre há ações de uns ou de outros, o mundo não para nunca, sempre em movimento, em choque. Forças tendem a atuar em conjuntos, no mínimo em pares. Aqui me dou conta que estou preso a minha condição de estar sempre sendo: ora ação, ora reação. Pois só sei de mim o que é passado, do futuro tudo é expectativa e ansiedade, gêmeas siamesas, clones contemporâneos da esperança.
Me recordo que um dia li que pior que sofrer é pensar em sofrer. Quando eu penso em mim eu vejo uma idealização do eu, mas quando me ouço no whatsapp ou me vejo num vídeo eu me percebo estranho, eu mesmo.
Eu me pego traidor de mim. Semelhante quando planejo todo um debate, esquecendo que sempre há uma outra força em ação, nem sempre igual, mas sempre contrária em algum sentido, quando me dirijo a agir de modo tal e me pego sendo outro, pois não contava com o outro, o oposto, o espelho, aquele me lembra que eu sou eu, mas leva toda culpa de mim.
Me preocupava não ser mais o que era, mas agora só tenho um gerúndio do eu, sou aquele que se descobre a cada dia. Tarefa de vida é se descobrir, mas como se só se sabe do que é passado. Como pensar em sermos quando tudo o que temos são idealizações de um ontem que não tem fim e nada mais no mar das incertezas, hoje somos o amanhã de um eterno ontem.
Não mude o que te tornas, mas as motivações que te levam a ter ímpeto de ser. Abrace as reações ao invés de simplesmente tentar não ser ação, seu movimento já estava dado, já somos mesmo antes de ser. Não espere ser quem quer que queira ser, ao invés, se permita se conhecer. Se permita as descobertas e vai traçando a aceitação de si, da condição de ser a reação de múltiplas ações. “torna-te o que tu és”.
*fauno guazina é produtor cultural, designer e professor
universitário.